Cumplicidade - Jornal Fato
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Cumplicidade


É público e notório que as mulheres são membros ativos da sociedade produtiva. O outrora sexo frágil está hoje em efetivo trabalho, estudo, produzindo renda e movimentando capital no âmbito social e político do país. Além disso, a maioria tem a chamada terceira jornada: cuidar dos filhos, do marido, da casa, etc... Se não bastasse, precisa estar bonita, unhas feitas, cabelos penteados e disposta para os demais papeis sociais.

 

Diante dessa realidade, sempre que converso com alguém, em especial do sexo masculino, sobre trabalho e sobre a correria dos dias atuais, ouço a seguinte afirmação: "é difícil mesmo, né. E para a mulher ainda sobra cuidar da casa, etc.". Como assim? Eu me pergunto.

 

Acho engraçado esse pensamento, logo, esboço um leve sorrir e respondo que não tem que ser assim. Como qualquer ser humano, sem dúvida alguma, tenho a terceira jornada, afinal, sou mãe, moro em uma casa e tenho um esposo. Mas, para começar, meu marido cozinha muito melhor que eu, então porque eu teria que assumir a comida e entregar o prato na mão dele? Alguns me olham com surpresa, outros transparecem um riso, mas é isso mesmo.

 

Ora, se a mulher e o homem trabalham; se ambos são pais; se os dois moram na mesma casa e compartilham da mesma realidade, porque só a mulher deve cuidar dos afazeres do lar? Qual é o pecado se o casal é cúmplice na vida, nas contas e nas obrigações da casa comum?

 

Confesso que não consigo imaginar que, em pleno século XXI, ainda tem gente acreditando que o homem deve ficar sentado no sofá, enquanto a mulher descabelada, cheirando a alho e com toca na cabeça prepara o prato para entregar na mão do varão, digo, do senhor. É diferente que, de vez em quando, em demonstração de carinho, um prato especial, ou mesmo um famoso mexidão, seja entregue nas mãos do parceiro e vice-versa. Não que os cuidados entre o casal tenha que deixar de existir, mas o tal "mulher tô com fome!" Deus me livre de uma vida assim.

 

Brincadeiras a parte, mas, o fato é que ninguém ama sozinho e não há casamento que dure quando somente um se sente o dono da razão. Assim, a construção do amor se revela nos pequenos atos de cuidados entre o casal, e não apenas da mulher para com o homem ou o contrário. Se fosse assim, não seria casamento, seria servidão e já não há - ou não deveria haver - na sociedade espaço para isso. Se ainda existe é porque pessoas vivem oprimidas, mas até quando vão suportar?

 

Penso que o fato de mulheres buscarem igualdade não pode lhes acrescentar funções sem que outras sejam partilhadas. Assim, com a comunhão de vida e de afazeres, a vida conjugal se torna menos desafiadora, mais feliz e o casal passa a ter condição de afirmar que, de fato, são cumplices na vida. Afinal, a vida é feita de um amplo contexto no qual a rotina sobressai, mas que nos apresenta brechas para momentos mais amenos e de relaxamento. Cada um desses momentos é digno de ser vivido a dois.

 


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