Começar de Novo, Sempre - Jornal Fato
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Começar de Novo, Sempre


 

O Brasil está um lixo. Também estão um lixo cidade e cidades. Sabemos quem são os culpados. Não tem segredo. Passa-me a vontade de me dar por vencido, vontade de parar, ir embora para Pasárgada, vontade, vontade, vontade... vontade de não ter vontade.

 

Foi quando chegou a Liz, minha quarta neta; tão linda quanto as demais, tão linda quanto netos e netas, filhos e filhas de cada um de nós - aí a vontade de ir embora, a tal vontade que vai embora. Como deixar-se vencer, se há Luz e se há Liz. Como deixar-se vencer se há Stella, Lívia, Luisa e Maria Clara, Victor e Max? Como deixar-se vencer se há tanta gente no início da vida, precisando de nós? Como ir embora, vendo Arthur Staphanato, 13 anos, brilhando e seus colegas DeMolays marchando com ele, inclusive Gabriel, que mirou no seu exemplo?

 

Como ir embora vendo jovens como a universitária Laís Ribeiro, assim como Renata, Angélica e Dannyelle, lá do Mourad's, trabalhando, trabalhando e trabalhando, visando futuro justo para elas e para a criança que se já anuncia com Dannyelle?

 

Como ir embora dos sonhos de meu tempo, tempo do qual me lembro, com grande satisfação, do quase centenário Prof. Carlos Passos, ainda lúcido lá em Castelo? Como ir, tendo lembranças de meus pais, de Gilson Carone, de Hélio Carlos, de Newton Meirelles, de João Madureira, de Gil Gonçalves, de Dirceu Cardoso, do Prof. Deusdedit e de tantos que se foram não porque quisessem, mas porque Deus os levou de nós, depois de eles dividirem comigo e com tantos suas experiências, coerências, retidão?

 

Como ir para Pasárgada e deixar a meninada que brinca no quintal, à sombra do prédio da Rua Professor Domingos? Gabriel, Giovana, Arthur, Roger, Isabela e, de vez enquanto, passando por aqui o Miguel, apaixonado pelos astros e estrelas do firmamento, tanto quanto fui nos tempos da minha meninice em Muniz Freire, Barra do Itapemirim, Guaçui, Alegre e Castelo.

 

Não, a situação não está boa, e os culpados são os que, por ação ou omissão, colocamos nos tronos do Poder. Mas esses tais, que se ferrem.

 

Vou começar tudo de novo, com todas as dores do mundo, sim; mas com o sentimento de justiça e de honestidade nas mãos e no coração - foi assim que aprendi -, pois não há de se falhar com os que nos deram exemplos; e não há, muito menos, que se falhar com a juventude que enumerei e com a juventude que não citei, seja pelo espaço pequeno, seja por não estarem à minha volta e a visão não lhes alcança - o coração sente, sente e bate, bate e bate por eles.

 

Arreda tristeza, arreda decepção com os que estão lá em cima, arredem porque crianças e juventude não precisam de vocês. É minha homenagem e minha esperança a todos e todas que citei, e aos que não citei, também. Eles não merecem que sejamos tristes e apáticos, muito menos o momento cruel atual em que vivemos pode nos vencer.

 

E não creio que esteja falando e escrevendo só por mim. Venha conosco, prezado leitor de todas as semanas; varramos para a lata do lixo o entulho que está por cair ou já caiu. Se não fizermos por nós, façamos pelos que chegaram recentemente e pelos que chegarão.

 

Silvana, Artesã e Parceira

 

 

Silvana, Silvana da Silva Alves Laiber, é artesã por vocação. Aos 14 anos de idade resolveu e disse a si mesma que iria costurar, que iria criar roupas, que iria fazer crochet. Fez e faz desde lá, tudo isso para o qual é e vocacionada. Assim nascem os talentos.

 

Mas não fez e faz só isso. Ao tempo em que produz seus artesanatos, faz outro trabalho - outro dom - trabalho tão sério quanto seu artesanato: divulga e apoia com insistência e prazer o trabalho de outros artesãos e artesãs locais, seus amigos. Acho até, que divulga trabalhos dos companheiros mais que aqueles que faz com as próprias mãos.

 

É de gente assim que vida e artesanato precisam, que a cidade precisa, que os artesãos precisam; gente que se constrói e, ao mesmo tempo, constrói seus parceiros.

 

Silvana, com suas companheiras, é presença constante nas feirinhas quinzenais de Artesanato, na Praça Jerônimo Monteiro, centro de Cachoeiro.

 

Não Há Juízo Sem Inclinação

 

O Padre Antonio Vieira (tão jesuíta e tão inteligente quanto o Papa Francisco, argentino, embora separados por 400 anos) disse, no Sermão da Sexagésima, pregado em 1655, na Capela Real Portuguesa, que "não há juízo sem inclinação", ou seja, ninguém - gente comum ou julgador - julga pelos bons olhos do próximo, senão pelos próprios. Inclina-se, sim, inclinamo-nos todos - até os perdedores -, no sentido dos próprios interesses, dos próprios pensamentos e ideologias, no sentido do que entendem ser a verdade pura, se isso existe. Enfim, sempre acham que o certo é o que pensam (o que pensam naquele momento), e pronto.

 

E, ao contrário daqueles de hoje e de sempre, que pensam sempre e apenas no hoje e nos seus interesses contrariados, o Padre Vieira não via mal nesse juízo com inclinação,  vez que, ao fim e ao cabo, o juízo final que sobra para a História é o juízo da maioria. E é o juízo do acerto, quando não por ele próprio, certamente pelas circunstâncias que a história cria e cristaliza.

 

Dito noutras palavras, dito diretamente, o que Vieira diz é que, de um modo ou de outro, mesmo com eventuais falhas de julgamentos humanos, o que vence, sempre, é o que foi decidido, e não o que os derrotados acreditam ser verdade - derrotados também erram, com a condicionante de que tanto erram quanto, ao mesmo tempo, são derrotados.

 

Na política não tem verdade, tem resultado, é o que diz literalmente outro europeu - Maquiavel -no seu próprio italiano antigo: "nelle actione di tutti uomini, e máxime de' principi, dove non è yudizio a chi reclamare, si guarda al fine", ou seja, onde não tem mais juiz a quem reclamar, exceto, no caso brasileiro, os 2/3 do Senado, certo é se conformar com o resultado que vier, ainda que com a tradicional choradeira, o mimimi, as acusações contra quem entra. Mas aí Inês é morta, como disse outro clássico, português como Vieira, Camões ("Tal está morta a pálida donzela") que também disse - "Cesse tudo o que a Musa antiga canta / que outro valor mais alto se alevanta".

 

E só para finalizar, dois terços do Senado, se a tanto se chegar nos próximos 180 dias, para a Constituição Federal é bem mais do que os 54 milhões de votos arrecadados por Dilma, com a valiosa colaboração de... Michel Temer, claro.


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