Colecionador de abraços
Conheci um grande colecionador de Abraços
Não que ele tivesse realmente algo que lhe dava indícios ou traços
Isso era só mais um sinal do seu laço com o fracasso
Sorria, cantava, falava, nunca questionava, brigava ou sequer alguém negava
Só para as conquistar
Só para delas tentar se agradar
Já que em seu peito reinava, um vazio compasso
Um coração em estilhaço
Gostava de pelo menos se relacionar
Mesmo que com poucas palavras, ser marcado e marcar
Assim mais um abraço poderia sempre colecionar
Apenas e somente, apenas e só,
Pois era sempre o que se sentia, grato
Não completo
Jamais inteiro
Palhaço
Só recebendo mais um ato
Por parte de todos, mais um acato
Apenas um chocalho movido por mais um abraço
Mas ele não gostava do seu próprio eu, do seu próprio enlaço
Não sentia que se aconchegada bem ali, naquele pequeno e escuro espaço
Espreme, espreme de um braço pra cá, e outro pra lá,
Sentindo se solitário, de tal maneira,
Conversava com si próprio, mas nada além de Blá, bla, blá
Não conseguia de si, colecionar amor... ou um simples abraço
Tudo isso se tornara escasso
Seu coração estava por um tris a se transformar em aço,
Mas ele não queria tentar se amar
A si mesmo se doar
Tinha medo de si próprio magoar
Era mais fácil acreditar
Na perfeição que sentimentos questionadores poderiam lhe proporcionar.
Até que se viu sem ninguém
Sem alguém para superestimar
Não deixavam o se aproximar
Só tinha a si próprio a prumar
A simplesmente ter que se conquistar, gostar, Amar
Uma lágrima lhe caiu a face
Uma lembrança se fez a recordar
Afrontou se, e passou a no espelho se encarar
O que lhe proporcionava desprazer
Sem nada poder fazer, e nem sequer dizer
Só tinha a si
Cogitou, pensou e então percebeu
Algo que ele nunca se atentou
Ao espelho.
Aos defeitos que lhe rodeavam
Mas que eram impostos pelo seu respectivo reflexo
Impostos por sua família
Desconhecidos
Pela sociedade
Mas não por ele
Nada poderia ser tão complexo
E então não mais poderia ser
E mesmo assim em mentiras tão inconvenientes
Ele se pôs a por tempo demais acreditar
Quebrou o espelho
Partiu lhe ao meio
Quebrou o que lhe era trivial
Acreditando poder ressuscitar
Motivos que o fariam se aceitar
Rompeu com todos os seus próprios pensamentos habituais
Quebrou o seu próprio antigo julgar
A de si próprio poder de abraços colecionar
E passou a se amar