Coisas da vida - Jornal Fato
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Coisas da vida


A vida as vezes nos prega peças... Vivemos tão infiltrados em nossas obrigações e afazeres que, não raramente, perdemos a real essência da vida que é a relação interpessoal, ou seja, deixamos morrer em nós o dom de conviver presencialmente, sem malícia e sem interesse com o outro.

 

Isso ocorre, especialmente, nos dias atuais posto que as mesmas redes sociais que encurtam distâncias, também promovem abismos entre as pessoas. Prova disso se revela nos vários casos nos quais há imensa intimidade no ambiente virtual, mas, num contato pessoal, os mesmos "amigos" mal têm coragem de se cumprimentarem.

 

Assim, por vezes, passamos a ignorar a presença real do Outro em nossa vida, seja este Outro um familiar, que diariamente está ao nosso lado, mas que, comumente, nos é invisível; seja um amigo querido que a rotina nos impede de encontrar; sejam colegas que convivemos diariamente, mas que, sequer, conhecemos suas dores ou emoções; ou seja ainda aquele indivíduo que, por alguma razão, cruzou brevemente nosso caminho quando necessitava, talvez, apenas de um olhar, de um bom dia, mas que ignoramos sua existência por estarmos centrados nos compromissos pessoais.

 

Em meio a este contexto de cegueira e de concreto isolamento social que nos tem alcançado, vez ou outra, a vida - ou Deus, como prefiro entender - coloca diante de nós pessoas especiais, amigas e parceiras que nos aliviam o peso do árduo caminho havido nas lutas diárias. E, se não bastasse, essas mesmas pessoas nos fazem perceber o quanto precisamos do contato sincero e pessoal junto ao Outro. Concomitantemente, nos abrem os olhos para o fato de que não fomos criados para a solidão, mas para uma vida comum na qual juntos caminhamos na eterna construção de uma sociedade pacífica, amorosa e feliz.

 

É engraçado como algumas pessoas surgem repentinamente, tornam-se amigas tão queridas e próximas que, sem perceber, passamos a dedicar tempo às suas necessidades, à sua presença e a tê-las como confidentes. Passamos a ter alegria em compartilhar de nossas dores e de nossas satisfações, fato que prova que o problema da ausência de verdadeiras relações interpessoais na sociedade não é questão de falta de tempo, mas de prioridade.

 

Assim, uma sociedade que não prioriza a pessoa, tende ao desastre, pois não há outra consequência para o egoísmo, para a ganância e para o descaso para com a dor do Outro, seja este muito, pouco ou nada próximo de nós.

 

O fato é que, em algum momento, pessoas estranhas terão suas vidas cruzadas às nossas e, por óbvio, nem todas se tornarão próximas ou amigas, mas todas merecerão ser olhadas nos olhos, com respeito, com zelo e com dignidade. Desse modo, os amigos verdadeiros sempre permanecerão nos nossos corações, mas todos aqueles que, por nós, forem respeitados seguirão seus árduos caminhos um pouco mais aliviados e, quem sabe, nunca se esqueçam do nosso pequeno gesto de consideração e, porque não dizer, de amor.


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