Cabelos grisalhos - Jornal Fato
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Cabelos grisalhos


A quietude reinava nas imensas ruas desertas, talvez não fosse a ocasião, mas tudo o que ocorrera não passara de simples vidas chorando, não somente pelos olhos, contudo pelo coração.

 

Uma alma havia partido, e todos os dias isso não para de acontecer, ora essa, porque? a pequena menina dos cachos castanhos e volumosos pensou, e tudo o que quis foipor os pés no chão, ver o sol brilhar mais uma vez e prosseguir em frente, refletindo. Queria ver os vizinhos caminhando pelas ruas, pondo as mãos na testa outra vez, para se preservar do sol escaldante. Queria se atentar aos poucos fios de cabelo grisalhos, que muitos senhores e senhoras tinham e ela não entendia como isso acontecia, será que o tempo fazia isso com eles? Queria ver os outros correndo apressados, do trabalho de volta para suas casas, como sempre faziam dia após dia.

 

Porque a cada instante que passava, mais ela pensava e tentava refletir sobre a vida. Logo, só inclinava-se a isso. Oh quão complicada é! E como cada ser que nasce, cresce, envelhece, e morre se vai tão rapidamente, o que é a vida afinal?

 

Deixou suas indagações de lado, os pensamentos teriam que evaporar de alguma forma, quem sabe não o fariam pelo calor.

 

Passou a andar pela varanda da casa , não conseguia parar de pensar em diversas circunstâncias, foi quando lembrou- se de alguns momentos, seus pensamentos voaram, e então viu as folhas caírem da árvore da vizinha ,da casa do andar de baixo, e apesar da recordação escassa , veio a mente também as poucas vezes que saia pra brincar na rua ou catar acerola no pé da casa dos seus avós , a coceira era predominante entre o arbusto, mas o suco daquelas pequenas frutinhas, rendiam várias e várias noites de encontros da família , lembrou quão agitadas eram as crianças da vizinhança e que a primeira vez na qual foi brincar na rua,  sentiu se livre, mas logo chegou à conclusão de que na casa dos pais era bem mais livre, e longe de perigo. E assim ela foi passando de lembrança em lembrança, até perceber que o dia estava quase chegando ao fim.

 

Naquela noite, perto da cachorrada latindo à procura do gato preto, que se escondia entre galhos, o frescor depois de um dia calorento estava prestes a chegar, e o papagaio da vizinha com sua falação avisava isso a todos.  A lua era mais linda naquela ocasião,a menina não precisava se preocupar com mais nada, tinha um céu inteiro para apreciar, e de vez em quando, antes de adormecer totalmente, olhava o de sua janela de alumínio. Era uma vista de tirar o fôlego.

 

E quando fugindo de suas memórias adormeceu, por um instante abriu os olhos e percebeu; as pessoas podem morrer, a vida pode passar, mas os momentos, ah os momentos sempre vão viver.

 


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