As montanhas de Cachoeiro - Jornal Fato
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As montanhas de Cachoeiro


Dias atrás postei no Instagram uma foto - mais uma, aliás - que tirei logo ao amanhecer dos picos do Itabira e do Frade e a Freira, com nuvens avermelhadas por trás deles e a névoa encobrindo a cidade ainda adormecida aos seus pés. Como legenda, escrevi que por mais que eu os fotografe não me canso de admirá-los. E esta é a mais pura verdade, sinto que posso passar horas, dias até, a olhar, como que hipnotizado, para esses colossos de granito e sempre acha-los diferentes do último olhar que lancei sobre eles.

 

Ora é a incidência da luz do Sol, seja ao amanhecer ou ao cair da tarde, ao se pôr, que lhes confere uma cor que varia do verde escuro ao cinza azulado. Ou, se há cerração e a luz tênue é filtrada pelas nuvens, ambos adquirem uma tonalidade cinza escura; se acontece de chover, logo após se forma um arco-íris coroando o Pico do Itabira ou então terminando seu arco aos pés da Freira. No verão, as encostas dessas montanhas absorvem e ao mesmo tempo refletem o calor do Sol e elas passam a ter a mesma cor queimada e triste dos morros esturricados que circundam o município.

 

Os olhos mais desacostumados enganam-se, porém, ao medir a distância até eles. O que parece longe, está na realidade bem próximo de nós,a apenas poucos minutos de carro ou mesmo de bicicleta do centro da cidade. Quando morei na rua Cel. Guardia a janela de um dos quartos tinha uma vista privilegiada para o Itabira, parecia que era uma moldura para o rochedo. Sempre que eu entrava nesse quarto e me dirigia à janela, tinha a impressão que a pedra se afastava de mim. Até que minha mãe me explicou que era uma simples ilusão de óptica, que na verdade eu estava me aproximando dele, e que quanto mais eu me aproximasse, mais ele cresceria, até que em um momento atingiria o seu tamanho verdadeiro.

 

Anos atrás tive a oportunidade de pedalar até lá, aos pés do Itabira, junto com outros amigos, contemplá-lo bem de perto, tocá-lo e sentir toda sua imponência, toda sua majestade, e pude então ver claramente as rachaduras que permeiam toda a rocha de cima a baixo, que daqui, da cidade, não conseguimos enxergar; nem imaginamos que existam. Tive então a certeza de quem nem mesmo as pedras duram para sempre, nem mesmo o Itabira ou o Frade e a Freira.

 

Aos pés dessas montanhas vê-se o pouco que resta da Mata Atlântica; há também capoeiras, plantações diversas e pastagens, que com os seus variados tons de verde realçam ainda mais as formações rochosas; uma estradinha ou outra serpenteia os morros e as colinas, cortando os pastos e os cafezais. E, logo à frente e abaixo, emoldurada por essa paisagem, esparrama-se desordenadamente a pequena Cachoeiro, contrastando o vigor das cores da natureza ao seu redor com as cores frias e impessoais de seus prédios, ruas e avenidas.


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