Arte e Artesanato - Jornal Fato
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Arte e Artesanato


Cidade e região vivem do comércio, da indústria, dos serviços, dos profissionais que se dedicam a essa atividades econômicas. É o básico. E as cidades basicamente são as mesmas quando só se dedicam a essas mesmas atividades econômicas. São todas iguais. Só começam a se diferenciar uma das outras à medida em que as atividades próprias do espírito começam a se destacar. Pronto, para passar a dizer o que eu queria dizer isso é o suficiente.

Essas tais atividades do espírito, manuais também, e que também dependem de raciocínio, geralmente - quando é do povo que se fala - passam pelo artesanato. É o espírito e são os artesãos que geralmente dão à cidade e região em que moram, a identidade que essa região ou cidade vêm a ter. Atividade que não só dá destaque como, efetivamente, diferencia uma cidade e uma região das outras. É isso que nos faz movimentar-nos turística e culturalmente de um local para outro; a busca de novidades criadas quase sempre pelas mãos fincadas na imaginação do artesão, que vai criando coisas que vão ficando em lugar de destaque, ao lado da cama, na estante, na sala, pendurada em um ou outro canto da casa, no qual os olhos nossos ou das visitas automaticamente se voltam para ver e fazer a graça artística e emocional funcionar.

Cachoeiro de Itapemirim (e a região Sul do Espírito Santo) tem artesanato que dá gosto ver e muita gente, muito artesão, profissional ou amador, se farta, cria motivos para viver melhor, ao produzir as maravilhas que a gente só acredita que existe porque de repente elas se moldam nas nossas pupilas.

Só que ficam meio que perdidas: o artesão - justo por ser artesão - quase nunca tem a capacidade de, por ele mesmo, ao mesmo tempo em que cria, no mesmo tempo entrar no comércio informal e, daí, passar a viver desse comércio que lhe facilitaria a vida e lhe permitiria dedicar-se integralmente ao artesanato, se não se enriquecendo, ao menos tirando o que prover a si e aos seus... com arte.

Apesar de todas e tais possibilidades, quase não se vê por aqui incentivo forte, incentivo público, para que a atividade se consolide. Em atitude absolutamente amadora e que fiz só por gostar de ter e ver artesanatos, abri página na rede social (Facebook), onde podem os artesãos da região mostrar seu artesanato, melhor dizendo, e não abusando, mostrar sua arte tão necessária à vida, tão necessária a todos, para fugirmos da mesmice. E sabendo que um não mais viverá sem o outro; que imprensa em papel e redes sociais se interagirão para se tornarem melhores e sobreviverem, estou usando ambos instrumentos para divulgar nosso artesanato, cachoeirense e regional.

Trabalhos artesanais devem ser transformados em renda para o artesão que a fará circular pela... cidade e região. E se despertei interesse do leitor por mais profundidade na área, convido-o a ir à página que criei no facebook: "Arte e Artesanatos Capixabas" (que já tem quase 2200 participantes) e ali fartar-se com o pão do espírito, se permitem o lugar comum.

 

REFLEXÃO

Higner Mansur

Depoimento de Heuberger, judeu, prisioneiro em campo de concentração nazista. Diz Heuberger que no campo de concentração "cada lugar de trabalho tinha um policial judeu chamado Kapo, que cuidava da ordem no barracão. A polícia era a mesma do gueto, com os mesmos uniformes, bonés e COM O CACETETE OU CHICOTE NA MÃO COMO SÍMBOLO DE AUTORIDADE".

Esse é o escrito de judeu que viveu e sobreviveu ao campo de concentração e viu irmãos seus, JUDEUS, agirem como paus-mandados dos nazistas, com expectativa de que pudessem escapar do destino comum do judeu daquele tempo: A MORTE.

O livro tem 250 páginas e traz depoimentos de mais sete outros judeus que sofreram as mesmas agruras. As histórias que contam não dignificam os nazistas, mas longe estão de homenagear parte expressiva de judeus que se voltava contra irmãos judeus, na tentativa desesperada de sobreviver. PIOR: alguns dos depoimentos indicam uma maldade de judeus, equivalente à maldade dos nazistas.

A REFLEXÃO que faço vai além da dicotomia nazistas e judeus. É que me lembro de alguns que, conforme momento ou situação, ora crucificam árabes, ora crucificam judeus. Reflito, também, sobre africanos negros da época da escravidão, que se embrenhavam no interior África para capturar negros africanos e os venderem aos escravagistas. E reflito sobre a matança generalizada, de ambos os lados, nos países como Turquia e vizinhos e, ainda, o BOKO HARAN, negros que perseguem negras.

Ao final, minha reflexão passa por isso mas é só não mais que introspecção pessoal ("ato pelo qual o sujeito observa os conteúdos de seus próprios estados mentais, tomando consciência dele"), à qual dispenso comentários, apoios e desacordos. Dar-me-ei por satisfeito apenas com a reflexão do leitor, se ela provocar ao menos ligeiro vacilo nas convicções enraizadas e preconceituosas de cada um.

 

Sobre o que as tragédias podem nos ensinar

Thiago Sandrini Mansur

Ao ler o título deste breve texto, o leitor pode, inicialmente, se perguntar sobre o assunto que abordarei. Isto porque estamos acostumados a associar tragédia aos acontecimentos desastrosos, sobretudo fatais, que causam muitas vítimas. Afinal, estamos no verão, época em que, geralmente, acontecem grandes catástrofes "naturais", devido às fortes chuvas típicas dos países tropicais.

No entanto, para os gregos antigos, que viveram há cerca de quinhentos anos antes de Cristo, a palavra "tragédia" possuía significado muito mais amplo do que o geralmente conhecido para a maioria da população atual. No sentido grego, tragédia significa estória (narrativa de teor popular e tradicional, sem ter necessariamente um vínculo com a História real aprendida nas salas de aula) cujo enredo versava sobre as escolhas, as grandes paixões e os destinos dos seres humanos.

Ésquilo, Sófocles e Eurípedes são considerados os três grandes autores trágicos da Grécia Antiga. As tragédias gregas mais conhecidas são: Édipo-rei, Antígona, Agamenon, Electra, As Fenícias, dentre outras.  Com o passar dos séculos, muitas delas foram perdidas, já que não havia o hábito de documentá-las em papéis ou outras formas de registro. Contudo, pela imensa fama que fizeram, algumas delas foram traduzidas para o latim pelos romanos antigos, ficando eternizadas nos textos de Cícero, Ovídio e Sêneca.

As tragédias eram espécie de obra teatral dramática, exibidas ao ar livre, versando sobre sentimentos que afetam a todos, independentemente de sexo, cor, nacionalidade ou religião.

Embora sempre permeadas por mortes, catástrofes, desastres e guerras (daí a acepção contemporânea, mais restrita, da palavra), as tragédias gregas falavam - e ainda falam -, primordialmente, sobre a vida.

Os seres humanos - nós - somos quase que "por natureza", conflituosos, suscetíveis aos afetos, às paixões e aos sentimentos, que nem sempre são os mais honrados. Somos afetados pelo amor, mas também pelo ódio. Somos solidários com a dor do outro, mas também somos capazes de invejar e desejar o mal para o outro. Apesar de cultivarmos nobres sentimentos, quem nunca agiu (ou presenciou alguém agir) impulsivamente, deixando-se levar pela raiva, por exemplo? Brevemente falarei um pouco sobre a tragédia "Antígona" e os ensinamentos que ela traz.

(Thiago Sandrini Mansur é Psicólogo efetivo do IFES campus Cachoeiro de Itapemirim e professor do curso de Psicologia da Faculdade Multivix - Cachoeiro).


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