Ano bom - Jornal Fato
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Ano bom


 

Já faz algum tempo que desisti das resoluções de ano novo. Não que eu tenha parado de sonhar e planejar, porque sem isso a vida perde muito do sentido. Mas é que, sempre que tento botar prazo nos meus sonhos e planos, a coisa não funciona.  Acho que é da impetuosidade do aquariano: se é pra fazer, vamos fazer agora. Um passo de cada vez,  numa execução que pode demorar às vezes meses, até anos, tudo planejadinho, mas tem que ser a partir de já.  Deixar para iniciar no ano que vem algo que decidi agora me parece algo bem angustiante. Impensável.

Também faz tempo que desisti de esperar que o próximo ano seja melhor do que este. Não que eu seja pessimista  ou coisa que o valha. Pelo contrário. Acho a vida boa demais, mesmo quando ela não é tão boa assim. Sei  que  o tempo, seja o ano novo ou velho, sempre nos reservará  alguma bondade, filhos e netos nascendo, viagens, formaturas, emprego novo, obras e projetos sendo concluídos, enfim uma possibilidade infinita de vitórias e realizações.  Mas sei também que ele sempre nos entregará  alguma dor. E, nessa balança  não há saldo positivo ou negativo. Um quilo de alegria pesa tanto quanto cem gramas de infelicidade.

Não guardo, portanto, para o próximo ano, nenhuma grande ambição (ou talvez seja esta a maior de todas as ambições): desejo apenas, como desejo todos os dias de minha vida,  que eu possa permanecer viva, e que vivam também as pessoas que eu amo, outras tantas que admiro e outras que, embora eu nem saiba de sua existência, eu poderia amar ou admirar. E desejo que continuemos tendo disposição para viver, com todas as exigências que isso implica - pois viver é gratificante,  mas também exigente e cansativo.  Se isso me for dado, tenho certeza, será um ano bom.

 


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