Anjos - Jornal Fato
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Anjos


Acredito em anjos, firmemente. No imaginário popular os anjos são criaturas celestiais, sempre de cabelos dourados, olhos azuis e aladas. Porém sabemos que nem sempre são assim tão bonitinhos e tão pouco bonzinhos - alguns são na verdade temíveis guerreiros ou até mesmo os mensageiros da morte. Mas além de crer nesse tipo de anjo eu creio também em anjos de carne e osso, sem asas, que vivem aqui mesmo, no meio de nós, simples mortais. São aquelas pessoas que, mesmo sem nos conhecer, nos querem bem e nos fazem o bem apenas pelo simples motivo de ser esta a coisa certa a se fazer.

 

Há cerca de três anos viajamos, minha esposa e eu, para a Europa e ficamos alguns dias em Lisboa e outros em Paris. Já sabíamos de antemão que o povo português é sempre muito hospitaleiro e caloroso, em especial conosco, os brasileiros. Aconteceu, num desses dias, de precisarmos entrar em contato com uma guia local e estávamos sem celular, bem em frente ao Mosteiro dos Jerônimos e longe de nosso hotel. Tentei usar um telefone público, mas ou eu não soube como fazê-lo ou o aparelho estava com defeito. Um taxista, que nunca nos tinha visto antes, percebeu a situação e prontamente nos emprestou seu telefone móvel - o celular - com a maior boa vontade.

 

Já em Paris, contrariando toda a fama de maus educados, os franceses também se mostraram mais do que simpáticos e atenciosos em pelos menos duas situações. Numa delas estávamos - nós dois e mais três casais de brasileiros - meio que perdidos na saída de uma estação de metrô, sem sabermos ao certo qual caminho tomar para um museu que pretendíamos visitar. Veio caminhando então uma mocinha, de cerca de vinte e poucos anos, e ao perceber a situação e que éramos turistas brasileiros se aproximou e perguntou se precisávamos de ajuda, falando um português quase sem sotaque. Explicou que estudava nossa língua já há alguns anos e que pretendia visitar em breve o Brasil e logo nos mostrou para onde deveríamos ir.

 

A outra situação foi dentro mesmo do metrô parisiense, um dos maiores e mais movimentados do mundo, e em pleno horário do rush. O leitor da catraca por onde eu tentei entrar não fazia a leitura do meu tíquete e Carly já se distanciava - ela havia passado normalmente, antes de mim - quando um senhor percebeu a situação e, sem que eu o pedisse e sem que ele dissesse nada, passou o seu cartão magnético, desbloqueando a catraca e me liberando. Em seguida se perdeu em meio à multidão, sem me dar a chance de lhe agradecer pela gentileza.

 

Muitas atitudes tidas como pequenas, gentilezas que fazemos e que podem nos parecer simples, bobas, podem causar impacto significativo na vida de quem as recebe. E quem as faz também se sente recompensado, mesmo que não pense em gratificação; quando se faz o bem - o que precisa e deve ser feito - a sensação de dever cumprido e paz interior é extremamente gratificante.

 

 

                


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