Amor, paixão e loucura - Jornal Fato
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Amor, paixão e loucura


O que define a paixão? Rosa Montero, articulista do jornal espanhol El País, autora do livro Paixões, afirma que a essência é a alienação. O apaixonado sai de si mesmo e se perde no outro, naquilo que imagina do outro. Para o ensaísta suíço Denis de Rougemont, em História do amor no ocidente, o amor feliz não tem história. Só o amor ameaçado é digno de um romance. A paixão tem uma força alienante. Zeus, o deus de todos os deuses grego, foi condenado por Afrodite, deusa do amor carnal e etéreo, a perseguir ninfas e mulheres mortais, e assim, muitas vezes, cair no ridículo. O amor é representado por um menino nu, porque é uma emoção que não se pode ocultar. Cupido, na mitologia, apresenta-se com venda nos olhos, porque o amor não percebe os defeitos do outro. O amor é cego. A paixão cega, só o sentimento amoroso ilumina.

 

Na idade média surgiu o amor cortês e a impossibilidade da relação. Duas lendas do amor impossível se apresentam em Tristão/Isolda e Lancelot/rainha Guinevere. Antes disso, com o primeiro casal da criação, Adão se declarava para Eva, "Onde Eva estiver lá é o paraíso". Bom, se não disse, deveria ter dito. Santo Agostinho escreveu que a paixão é uma fantasia, uma alucinação, a pessoa amada é apenas uma desculpa que damos para alcançar a emoção do apaixonar-se.

 

Desidério Erasmo (Erasmo de Roterdã - 1466/1536) publicou o Elogio à Loucura. Afirmou que a loucura torna as mulheres amáveis. Eles prometem tudo a elas e em troca de quê? Do prazer. Mas elas só o concedem pela loucura. Para a psicanalista Betty Milan a busca do ser humano é pela completude. Cita Lacan: O amor é o desejo impossível de ser um quando há dois. O mito da completude inicia-se na mitologia grega. Éramos um só. Zeus nos cortou pela metade com receio da nossa força. Desde então a busca de nos tornarmos um só. Um desejo impossível. No cinema e na literatura muito se falou sobre o amor. Livros clássicos como Madame Bovary (Gustavo Flaubert); Lolita (Vladimir Nabokov); Ana Karênina (Tostoi), Dom Casmurro (Machado de Assis) e Amor e Erotismo - A Dupla Chama (Octavio Paz). O cinema, anos 70 do século passado, marcou uma geração com Love Story e uma frase se imortalizou: Amar é não ter que pedir perdão. Isto é, quem ama cuida e evita magoar.

 

A neurociência e a neurobiologia começam a desvendar as transformações cerebrais que ocorrem em uma pessoa apaixonada. A química, a coisa de pele, o mistério de um mundo maravilhoso e invisível, que os poetas descrevem tão bem, em um futuro podem ser decifrados e uma pílula do amor pode matar a beleza da paixão. A pílula, talvez, possa ajudar nos comportamentos e ciúmes doentios e evitar os crimes passionais. Eu? Prefiro os sonetos. De Camões, pai dos poetas da língua portuguesa: "Amor é um fogo que arde sem se ver; / é dor que desatina sem doer..." Do paulista Vicente de Carvalho: "Não me culpeis a mim de amar-vos tanto, / mas a vós mesma e à vossa formosura, / pois se vos aborrece, me tortura / ver-me cativo assim de vosso encanto..."


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