À bença, velha Izabel - Jornal Fato
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À bença, velha Izabel

Essencialmente, a canção "Velha Izabel" trata-se de uma história de caridade e esperança, de predestinação e fé e, acima de tudo, de amor e axé


- Foto: Matheus Rocha.

Enquanto escrevo, uma chuva fina cai do céu. Pouco antes, conheci "Uma canção de amor", de Gonzaguinha, interpretada por Joanna.

 

"...Uma canção de amor também é aquela

Que canta a luta da vida

A fibra, a força, a raça e o sangue

Que vem de João, Maria e José

Também é aquela que canta o suor do trabalho

Do calo das mãos de quem canta a esperança

No jogo, na dança, com garra e fé."

 

Caçador - e caça - de coincidências nada coincidentes, não tive dúvida: verdadeiro orixá dos "caminhos do coração", cujas músicas, mesmo as mais alegres, emocionam-me desde que me entendo por persistente ("Redescobrir" é um de meus odus), Gonzaguinha tivera a piedade de, lá do Orum, enviar-me a deixa necessária para esta crônica, em feitio de louvação à preta-velha Izabel. Sobre ela, convertida em cantoria de terreiro, seguem algumas palavras anexas à sua inscrição no 2º Festival Velho Bandido: 

Fruto de parceria entre Felipe Bezerra e Fábio Coelho, a canção "Velha Izabel" surgiu em 8 de maio de 2016, a partir de um sonho tido, na noite anterior àquele dia, por Bezerra, que sentiu-se inspirado a narrá-lo em forma de letra. A composição de sua melodia e harmonia foi feita por Coelho, quase seis meses depois, em 2 de novembro. Essencialmente, "Velha Izabel" trata-se de uma história de caridade e esperança, de predestinação e fé e, acima de tudo, de amor e axé. Uma história cuja porta-voz é a intérprete Clara Marins, certamente escolhida por Mamãe Oxum, Vovó Izabel e as Santas Almas Benditas de Aruanda. 

Acompanhada de seu pai Fábio, no violão, e de mim, na percussão, Clarinha defendeu-a na final do festival, realizada em Cachoeiro de Itapemirim, pelo brabo casal Amanderson Malta & Dario e sua equipe, no último sábado, 13 de abril, em baita homenagem ao aniversariante do dia, Sérgio Sampaio. Um furdunço à tarde aberta, no meio da rua, como "tem que acontecer", sob a proteção de Seu Tranca e de suas comadres e seus compadres. Laroyê!

 

Assim, cantando "a luta da vida", "no jogo, na dança, com garra e fé", Clara Marins venceu em primeiro lugar. Venceu ela, venceu Fábio, venci eu, vencemos nós; venci eu, venceu tu.

 

"...Sua cabocla então lhe veio

Pra comigo prosear

Me falou de sua missão

Que está prestes a chegar
Aruanda é caridade

Chuva fina cai do céu
Vosmicê vai irradiar com
Nega velha Isabel.
"

 

Lembra que te escrevi, maios atrás, que eu desconfiava que essa hora estava, sim, prestes a chegar? Prepare-te.


Felipe Bezerra Jornalista

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