Duas vidas - Jornal Fato
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Duas vidas

Ela era destemida, corajosa e viajada, acordara cedo como todos os dias, saia para trabalhar com o sorriso no rosto, independentemente do que acontecia ou acontecera


Ela era destemida, corajosa e viajada, acordara cedo como todos os dias, saia para trabalhar com o sorriso no rosto, independentemente do que acontecia ou acontecera.

Já sofrera tanto que as magoas em seu coração foram resumidas a pó e levada a lugares onde o vento percorria.

Já se alegrara por sentimentos complexos e singelos a qualquer olhar, mas para ela não havia mais importante ou menos, tudo era grandioso quando passava por seu olhar.

Saíra tão apressada para o metro que se esquecera do lanche da tarde, mas não haveria problema, ela adorava conversar com o João do bar ao lado do escritório.

[...]

Ele era contundente, empresarial e divertido, se amarrava em uma balada com os amigos. Não sabia o que queria para o futuro, só tinha certeza da curtição, bebida, festa e mulheres.

Mulheres no plural era a única coisa que ele não temia para o futuro. Namorava como quem procurava uma caneta perdida no meio da papelada do trabalho, agia como quem esperasse encontrar alguém que fizesse sua alma sorrir novamente.

Novamente, porque já sofrera, já amara, já perdera. O amor mudou sua vida, a paixão se responsabilizou com os cacos quebrados. O seu coração já sorriu com o encontro impactante, porém com a partida dolorosa, se fechou para tentar organizar os cacos que te machucavam. Quando percebeu que ele não seria capaz de fazer isso, abriu-se para a brecha de encontrar olhos coloridos.

Saíra tão tarde que chegaria atrasado mais uma vez. Pegaria o metro cheio, mas ele se ligava na multidão, tudo era divertido e embaraçoso. 

[...]

Ela pegou a linha que levava ao norte, ele pegou ao sul. Ela saltou as 07h40min, ele as 07h50min. A outra linha dela atrasou, a dele já havia passado. Ela fora obrigada a fazer uma rota alternativa, ele perdera a sua. Ela entrou, ele foi no primeiro que passou. Ela sentou sozinha, ele sentou-se ao lado de uma mulher. Eles conversaram a viagem toda. Perderam o local da descida. Eles saltaram na 3ª parada. Ela seguiu para o sul, ele para o norte. Entreolharam-se para dizer adeus. Não conseguiram. Muitas pessoas passavam em volta. A empurrar. Ele a procurava na multidão.  Não se viram mais. Seguiram sorrindo. Duas vidas haviam se encontrado.

 

 


Caroline Fardin Araújo Professora de Língua Portuguesa

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