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Ser servidor

Todos os dias eu faço tudo sempre igual e me levanto às seis horas da manhã


Todos os dias eu faço tudo sempre igual e me levanto às seis horas da manhã, sem um sorriso pontual porque a essa hora preciso de tempo para regular o meu humor. Pontual, a essa hora, é o ponto que bato às sete. Eu e mais um monte de gente, do local onde estou lotada e de outros setores públicos pelos quais passo pela porta, do caminho de casa para o trabalho.

Somos muitos na labuta diária de servir. Embora vítimas de preconceito, piadas prontas e frases feitas, a cidade anda porque levamos o trabalho a sério. O estado e o país também, mas parece que ter o esforço reconhecido virou artigo de luxo. Dizer que todo servidor público não faz nada é o mesmo que dizer que todo padre é pedófilo, que todo pastor é ladrão, que nenhum policial presta e que todo empresário é sonegador. Ideias pré-concebidas de uma sociedade doente que necessita de cura para ontem.

Houve uma época em que éramos mais valorizados. Hoje parece que os tempos são de guerra. Porque servidor é servidor. Não importa se efetivo, comissionado ou detentor de um mandato político, estamos todos no mesmo barco, o de fazer bem feito o trabalho que nos é designado, respeitando uns aos outros e sendo respeitados. Não era para haver muros onde mãos unidas produziriam mais e melhor. Não há necessidade de ressaltar diferenças quando o que conta são as semelhanças.

Triste situação quando uma pessoa que é eleita para representar o povo, em qualquer poder ou esfera, utiliza a palavra ou a caneta para deslegitimar o trabalho de um servidor público, sendo que ele mesmo ocupa, por vontade própria, a mesma posição. Afinal, o trabalho das autoridades caminha junto com o esforço de quem está na empreitada antes dele, e, provavelmente, continuará depois. Triste também quando, entre efetivos e não efetivos, criam barreiras, intrigas, brigas e divisões sem qualquer razão de ser. A união que faz a força precisa ser melhor exercida, assumida por cada um de nós de peito aberto. Juntos, meus colegas, somos mais.

Retirar direitos conquistados de qualquer segmento é lesionar a luta que não custa barato. Nós, servidores, temos alguns direitos sim, na mesma proporção que não temos outros tantos. E, apenas para ilustrar sem me alongar, vou citar o fundo de garantia. Não temos. E sabe aquele super salário? Pertence a uma minoria. Sabe o auxílio moradia? São para os juízes que por acaso recebem também, na maioria das vezes, os super salários dos quais falei. E mais. Para obter algumas vantagens perdemos o direito de adoecer, basta ter um único atestado médico e algumas coisas tornam-se impossíveis.

Como qualquer um, trabalhamos porque precisamos. Mas, mais que isso, a maioria de nós trabalha por amor também. Pela vontade de servir e de contribuir para o desenvolvimento de onde estamos. Cada um faz sua parte, porque, se nenhum de nós fizer, o caos se instala.

Quem gosta de se dar bem e levar proveito em tudo é malandro. E isso, meus queridos, há aos montes por aí, espalhados entre os setores públicos, nas empresas privadas ou andando pelas ruas. Os maus existem em qualquer lugar, mas não podem estereotipar nenhuma classe em nome deles.

 


Paula Garruth Colunista

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