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Ser adulto


Muitas pessoas me perguntam porque eu não tenho mais um filho. Respondo que não tenho tempo, idade e nem dinheiro, e tem gente que ri, como se eu estivesse brincando. Não gente, não é brincadeira. Um filho é assunto sério, responsabilidade única e exclusiva do pai e da mãe. Mesmo com o direito de um colinho de avós, chamego de tios e paparicos de amigos, ter um filho é também não depender sempre da boa vontade dos outros. Delegar a outra pessoa a educação, os cuidados e os boletos do seu filho é dar também o direito de opinar, de se meter e também de te deixar na mão em alguma eventualidade. Prefiro levar meus braços até onde eles alcançam.

O nome disso é ser adulto. Assumir as responsabilidades, pagar os preços e ter as rédeas da própria vida nas mãos é realmente crescer. Quantas pessoas você conhece que cresceram de verdade? Que são capazes de olhar para o espelho e enxergar-se realmente um adulto?

Crianças, somos quase todos protegidos. Adolescentes, somos ansiosos, vacilamos entre querer e não querer mais essa proteção, intensos em desejar o futuro. No início da juventude já sentimos esse efeito de ser grande, já assumimos riscos, e aí decidimos se crescemos ou não. Embora não seja fácil e vez ou outra eu queira voltar a correr descalça pelas margens do rio, optei por crescer.

Não crescer faz de nós uma trapaça. Muitas vezes um ser que murmura aos quatro ventos o quanto a vida foi injusta, o quanto ele é foda e ninguém nunca reconheceu. A dureza de ser genial sem aplauso ou recompensa. Então, ao mesmo tempo que reclama, se escora. Pessoas que não crescem estão sempre escoradas em outras pessoas. Em um irmão mais velho que se deu bem (e o sujeito jura que foi sorte), no marido abusivo, nos pais já cansados, nos vícios, quaisquer que sejam eles ou no vizinho caridoso.

Crescer, ao contrário, exige atitude e coragem. Inclui educar os filhos, fazer escolhas, cuidar das relações, enfrentar os medos, discutir, calar a boca, levantar da cama mesmo com vontade de dormir mais um pouco. O preço é alto, mas aí, nesse caso, a vida é legítima. E o prazer de ter a autonomia de ser quem realmente é não tem preço.

Pague o preço, liberte-se das amarras. Ainda dá tempo. Só sente o vento na cara quem se arrisca a pilotar.

 


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

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