Retrato do Bom Agroturismo - Jornal Fato
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Retrato do Bom Agroturismo

Leandro Carnielli lançou obra prima sobre o Agroturismo, com apresentação do benemérito João Batista Martins, do MEPES e a colaboração do mano Ronald Mansur


Conheci Leandro Carnielli entre 2001 e 2002, na época em que fui secretário de Cultura e Turismo de Cachoeiro. Visando implantar o turismo rural - agroturismo - em Cachoeiro, visitamos, por indicação de Ronald Mansur, a cidade de Venda Nova do Imigrante, aqui pertinho, já nas montanhas do sul capixaba. Fomos a diversos locais e propriedades de Venda Nova, todos agradáveis, mas onde demoramos mais, por que efetivamente era mais, foi na propriedade da família Carnielli, que fica um pouco antes de Venda Nova, para quem sobe de Castelo.

Além do cuidado e do carinho em nos receber, provamos muito da produção agrícola local, a partir de doces e do café. Ouvimos de Leandro - nunca tinha visto isso no interior - palestra de cerca de meia hora, sobre o que era agroturismo e como ele nascera lá, com um pezinho na Itália e outro no MEPES regional.

Foi ali que aprendi que quem recebe de graça pouco aproveita, se é que aproveita. E que quem cobra muito, não tem freguesia. Para não cair num buraco ou no outro, Leandro cobrava algo semelhante a pouco menos de um real por cabeça, fosse hoje. Era tão pouco que eu mesmo paguei para a quase três dúzias de agricultores de Cachoeiro, que faziam parte da caravana - trinta reais no total, possivelmente.

Creio que foi logo depois, início de 2003, que Leandro Carnielli lançou obra prima sobre o Agroturismo, com apresentação do benemérito João Batista Martins, do MEPES e a colaboração do mano Ronald Mansur - perdoem-me a citação familiar.

A obra, acho que está esgotada e merece ser relançada. São só 42 páginas, mas nelas estão lições imprescindíveis para sempre, como se pode ver na conclusão do livro, assinada por Leandro Carnielli.

"CONCLUSÃO - Gostaria de exigir mais de sensibilidade dos governantes em relação ao meio rural. Não conseguem ver que o Estado torna-se um empecilho e não um parceiro para o homem do campo.

Temos de acreditar em nosso potencial e exigir mudanças para termos êxito. Temos dificuldades em nos organizarmos para mobilizações e reivindicações em busca de soluções para problemas comuns. Quando agrupamos devemos buscar soluções que sirvam a todos. Normalmente queremos ajuda que atenda a nossa dificuldade particular e nunca a solução coletiva. Quando unimos forças e pedimos um bem comum é mais fácil de alcançá-lo. Devemos trabalhar melhor.

O agroturismo é uma modalidade de turismo rural que tem características próprias e bem definidas, nasceu com uma particularidade, a espontaneidade. Não imitou forma e fórmulas já existentes. Nasceu numa comunidade agrícola, com fortes traços culturais e um meio ambiente propício. Criou mais uma opção, um novo nicho de mercado. É uma atividade que veio para a família rural como renda extra e complementar. Atendeu a uma parcela da sociedade que busca a tranquilidade do campo, sua vida simples, suas tradições e culinárias".

(Agora, véspera do feriado de Corpus Christi, Leandro Carnielli passou por Cachoeiro e aproveitou para me entregar um exemplar - o último? - de seu livro e, claro, tomar um café comigo. E que esta crônica, ao menos na parte em que fala de Leandro e de Venda Nova do Imigrante, possa ser uma luzinha no fim do túnel).

 

ESPERA

Hércules Silva

Na verdade, nada espero de ninguém nesta terra. Só esperaria em uma fila de repartição pública, mas isso por necessidade. Com toda certeza, todos esperam alguma coisa de alguém... Fulano espera ganhar presente. Sicrano espera acertar na loteria. Beltrano espera alcançar o estrelato.

Tenho uma boa e desanimadora notícia para todos vocês... TODOS CHEGARAM A ISSO! Fulano ganhou presente, Sicrano ficou rico e Beltrano é um astro. Não foi Papai-Noel... Foi vontade e persistência, que, aliados a muita fé em Deus os fez realizar seus sonhos. É a Fé, a verdadeira Fé que nos faz brilhar e conseguir tudo nessa vida. Não me refiro a fé de porta de igreja, não, essa não seria a Fé de que tanto falou Nosso Senhor.

Vocês passam a vida pensando que tudo vem fácil, mas esta é uma dura e vã ilusão que, com o tempo, acaba nos destruindo e nos tornando vadios, descrentes e sem fé.

Me digam, é feliz o homem sem fé? Eu, em minha pouquíssima experiência de vida, tenho certeza que seria impossível que tal sujeito seja verídico nesta de terra de meu Deus para os ateus. Esses iludidos, quando chegarem a ser iluminados por essa enorme força, essa dádiva que é viver com fé, vão acabar se vendo com vontade de bater com a testa na parede, vão dar murros em ponta de faca, vão pular de um penhasco rezando o Padre-Nosso que estiveram tanto tempo sem vontade de lembrar, e na hora do amém já será tarde.

Sem fé, só lhes resta esperar. Esperar que caia do céu a mágica solução - QUE NÃO SERIA A CHUVA PARA AS SECAS - que vai brotar na cabeça dos calvos em desespero, o cabelo que vai permitir que se torne seguro entrar n'água sem saber nadar.

Mas francamente... Vai ter fim a cegueira deste mundo?
Não há gente passando fome, não há desemprego, os ricos amam os pobres... Por que abrimos a boca com tanta certeza? Somente os tolos têm certeza de tudo. Eu mesmo tenho uma: tudo é incerto. Com toda minha certeza, continuo à espera.

À espera da solução.

Não! Da solução não!

Do problema! À espera do problema ser resolvido.

(Hércules Silva é jovem escritor cachoeirense que, de vez em quando, dá uma "canja" por aqui, na Conexão).

 

Padre Vieira Andou Dizendo Por Aí

Sermão da Sexagésima

1 - "Há muita gente neste mundo com quem podem mais os brados que a razão".

2 - "Que médico há que repare no gosto do enfermo, quando trata de lhe dar saúde? Sarem e não gostem".

3 - "Não há juízo sem inclinação"

Sermão do Bom Ladrão

4 - "Basta, senhor, que eu porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois governante? Assim é, o roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza, o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito os Alexandres".

5 -"Saibam estes eloquentes mudos que mais ofendem os governantes com o que calam, que com o que disserem".

6 - "Mas que seria se não só víssemos ladrões conservados no lugar onde roubam, senão depois de roubarem serem promovidos a outros maiores?".

7 - "Os governantes de Jerusalém não são fiéis, senão infiéis, porque são companheiros dos ladrões".

8 - "O que não se pode calar com boa consciência, ainda que seja com repugnância, é força que se diga".

9 - "Grande lástima será naquele dia, ver como os ladrões levam consigo muitos governantes ao inferno".

Sermão pelo Bom Sucesso das Armas.

10 - "A dor quando é grande sempre arrasta o afeto".

11 - "Não hei de pedir pedindo, senão protestando e argumentando; pois está é a licença e liberdade que tem quem não pede favor, senão justiça".

(Padre Antonio Vieira viveu entre 1608 e 1697. Viveu quase noventa anos, perturbando os graúdos do Poder. Nos textos acima, do "Sermão do Bom Ladrão", substitui os termos "príncipes" por "governantes", pois esses são tempos deles... quase sempre ladrões?)


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

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