Rabiscos, afetos e muitos senões - Jornal Fato
Artigos

Rabiscos, afetos e muitos senões

Às vezes me acho demasiadamente volúvel. Quero muito uma coisa, e no momento seguinte ela já me parece desnecessária


- Foto Reprodução Web

Sugere um motivo egoísta e fútil e já a descarto, em busca de novas coisas que realmente valham a pena.
Aí vem à memória os muitos sonhos não realizados, os rabiscos feitos despretensiosamente ao longo da vida, os amigos queridos que ficaram para trás, embora continuem bem vivos nas melhores lembranças.
Percebo que pelo caminho registrei fatos importantes, desimportantes, necessários e desnecessários. Confesso que hoje alguns parecem perfeitamente dispensáveis e não valeram toda a ansiedade e sofrimento.
Sei que chorei e que sorri, fui plácidamente calma aos olhos das pessoas que não me conhecem bem, já que sou pura ansiedade, mas sigo em frente.
Uns dias mais tranquila, outros bem angustiantes. A diferença é que talvez, eu disse talvez, esteja mais preparada para os desencantos da vida.
Ainda sou a jornalista que escreve e sonha com dias melhores. Que escreve e chora diante das notícias tristes, e elas são muitas todos os dias, ao ponto de exaurir as energias e desesperançar.
Mas também sou a jornalista que ama a profissão, que nunca se arrependeu da escolha que fez e que escreve e sorri a cada manhã, quando as misericórdias de Deus se renovam.
Sou aquela que levanto sempre disposta a fazer diferença no mundo. Essa é uma pequena grande ambição da vida toda.
Sabe porquê? Porque entendo que não podemos deixar folhas em branco. Na minha história cabem erros e acertos. Talvez tenha errado mais. Ou acertado mais. Difícil dizer.
Mas se tem uma coisa que nunca coube na minha trajetória é a indiferença. Não admito isso para mim. Na vida dos outros não posso interferir. Ainda lembro do versículo que diz " porque não és frio nem quente vou te vomitar da minha boca". Então, nos momentos que não me manifesto é porque não vale realmente a pena e me abstraio. Não dá para jogar pérolas aos porcos.
Então enquanto escrevo tento viver e deixar que vivam. Um minuto de cada vez, que a vida é incerta e efêmera. E tento manter viva na mente e no coração a premissa de que nenhum de nós deve se esquecer que é demasiadamente humano. E que a vida é um sopro.
Nas mal traçadas linhas, temo chegar ao final da história com o fatídico "e foi ansiosa para sempre", mesmo com a recomendação bíblica de que "não estejais ansiosos quanto ao dia de amanhã'. E também que "basta a cada dia o seu mal".
Então é importante continuar escrevendo a história da vida, sabendo que tudo pode mudar logo ali na esquina. E que Deus tenha misericórdia do povo da Ucrânia. Que Deus tenha misericórdia daqueles que, podendo fazer diferença e promover a paz, incentivam a guerra.
Daqueles que viram as costas e deixam morrer. Por ação ou omissão. Mais do que nunca, o Brasil, e o mundo, precisam de paz. E eu estou disposta a fazer a minha parte. E você?


Anete Lacerda Jornalista

Comentários