Performances e nada mais - Jornal Fato
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Performances e nada mais

Ontem uma amiga, vítima recorrente de violência doméstica e com várias medidas protetivas violadas pelo ex-marido, fez contato comigo


- Foto Reprodução Web

Falava da sua desilusão e da falta de políticas públicas que efetivamente protejam as vítimas. Apontava também o corporativismo que protege homens violentos, e o absurdo daqueles que se aproveitando do cargo, têm uma relação promíscua no processo e podem interferir na redação e imprimem o próprio boletim unificado, tornando a vítima em ré.

Parece mentira. Surreal. Não dá para acreditar. Isso me deixa muito mal e me leva a pensar que o tema defesa dos direitos da mulher não é trampolim para voos políticos. Nem de homens nem de mulheres.

O problema é muito sério para ser mal usado por aqueles que almejam se eleger em algum cargo público de carona nessa pauta tão cara às feministas que de dedicam a combater a violação de direitos, a violência, o machismo e as práticas patriarcais.

E se tem uma coisa que é desgastante nesse país é fazer e querer a coisa certa. Lutar por investimentos que preservem vidas nem sempre é abraçado com o entusiasmo necessário pelos homens e mulheres públicas.

Sim, mulheres públicas também. Porque algumas sabem fazer o dever de casa e têm a exata noção do que devem fazer em prol de todas as mulheres quando ocupam um cargo público ou eletivo, seja ele no Executivo, Legislativo ou Judiciário.

Outras, ao contrário, usam muito bem politicamente essa pauta, mas pouco fazem de verdade para ver as coisas mudarem. Não sou feminista, sou feminina, chegam a dizer. Sem comentários sobre o absurdo dessa fala.

Precisamos que haja investimentos para criação de espaços em que as mulheres possam ter acesso à saúde, sem as dificuldades que ainda se vê na marcação de exames e consultas essenciais.

A Prefeitura de Cachoeiro divulgou que ainda esse ano será criada a Casa Rosa, que dará atendimento especial às mulheres cachoeirenses. Menos mal e em boa hora.

Sonho com espaços que acolham as mulheres que não aguentam mais ser espancadas por companheiros violentos.

Que proteja seus filhos de crescerem nesse ambiente tão nocivo, em que a mãe apanha ou é agredida e humilhada verbalmente no café da manhã, no almoço e no jantar.

Mas para falar a verdade, sonho de verdade com políticas e políticos que sejam "a vera", quando se dizia na minha infância quando se queria dizer que uma coisa era séria.

Chega de farsantes travestidos e travestidas de defensores dos interesses de todas as mulheres.

Há muita gente lutando incansavelmente em prol das mulheres que sofrem violência para que permaneçam vivas.

Infelizmente muitas que se autodenominam nossas porta-vozes passam longe disso. Nós merecemos, e queremos, mais. Ser bem representadas de verdade é o nosso maior desejo.


Anete Lacerda Jornalista

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