O destino adjudicou
Se algum colega vier a me perguntar, um dia, quem são minhas influências literárias, responderei que uma delas é Buchecha
Um carro de som cruza meu caminho. Som de quê? "De preto, de favelado": de Cidinho & Doca e Mulato; de Claudinho rei & Buchecha apaixonado. Liberta, DJ, o funkeiro que habita em mim - sem nunca saudar o bucha da parada que habita no outro - desde quando, de carona no "bonde da CDD" (ou no "carrossel de emoções"?), aprendi a viver.
Tem hora, sangue-bom, que só mil alto-falantes vão poder falar por mim. E mais: se algum colega vier a me perguntar, um dia, quem são minhas influências literárias, responderei que uma delas é Buchecha. Foi ele quem, antes mesmo de Aldir Blanc, ensinou-me a rimar periferia e erudição. Graças ao nosso faixa, aliás, eu posso escrever, hoje, que o destino adjudicou.
MC's MARCINHO & PAULINHO
Enquanto sigo, pela nostalgésima vez, na audição de "Quero você", de MC Marcinho, percorro algumas linhas textuais, folhas soltas à brisa matinal da internet, sobre a vida de Paulo Mendes Campos, ancestral da crônica que, de uns ventos pra cá, passou a soprar em minhas prosas.
A verdade é que mando ver nesse improvável mexidão do pós-madrugada (hum, até que Mendes Campos com Marcinho na manteiga vai bem) por pura ansiedade: há quanto tempo teu 'ei' não sacia, por inteiro, meus dias?
ELÁ, ELÁ, ELAREÔ...
Certa feita, Buchecha postou, em suas redes sociais, um vídeo dentro do qual estou até agora. Nas imagens, registradas numa quadra qualquer, nos anos noventa, a massa, feliz da vida, curtia o "Rap da União". Você, ao assisti-lo, deve ter me notado ali, sonhador, a procurar por alguém que estava não naquele baile, e, sim, num humilde quarto. Ou, então, por entre os livros da biblioteca.
LENITIVO
Observa-me, pela fresta da porta, com ar especulativo, porém não se empenha em cogitar hipóteses. No fundo, sabe o que leva meu silêncio a gritar: uma saudade impublicável. Consciente disso, não chega, no entanto, a externar nenhuma palavra benfazeja. Não precisa. Seu olhar, por si só, é de todo lenitivo. Em matéria de piedade, os gatos ainda têm muito a ensinar aos humanos.
SÓRDIDOS E CALDO DE CANA
- Quero um trem assado, moça.
- Qual?
- Qualquer um, mas sem catupiry e maquinista morto.
FEALDADE
Os fofoqueiros são uma fascinante discrepância: falam tudo porque, a rigor, nada têm a dizer. Eis a riqueza discursiva do vácuo.
PARA GIOVANI VALORY
As piabas (e não é piada) são o torresminho dos rios.