Músicos de Cachoeiro - Uma Reflexão - Jornal Fato
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Músicos de Cachoeiro - Uma Reflexão

Tenho muito a falar sobre cultura de Cachoeiro e de Cachoeirenses, mas agora só vou falar de música


Tenho muito a falar sobre cultura de Cachoeiro e de Cachoeirenses, mas agora só vou falar de música... de Cachoeiro e de cachoeirenses. A homenagem aos 90 anos de Raul Sampaio, no Teatro Rubem Braga, capitaneada pela Secretaria de Cultura, 04 de julho, além de estrondoso sucesso, foi das maiores homenagens a Raul, prestadas por sua cidade natal.

Na homenagem, saltou-me aos olhos a qualidade dos músicos cachoeirenses, cantores, cantoras, instrumentistas, maestro. Uns 40 músicos, boa parte deles profissionais.

Outra coisa saltou aos olhos: - todos, absolutamente todos, muitos profissionais, não ganharam um tostão para se apresentarem.

Chegou a hora de a administração pública passar a dar maior valor a esses cachoeirenses, valor em aplausos e valor em dinheiro - eles vivem do que ganham. E esta mensagem toma maior vigor quando temos, na Prefeitura, Prefeito que veio da Cultura e que, certamente, viu e vê a necessidade desses excelentes profissionais. Está na hora de começar a contratar cachoeirenses, para eventos diversos, avulsos, sem grandes gastos - talvez um mínimo de 500 reais, quando individuais, até uns 2000 reais, em conjunto - em solenidades da Câmara e da Prefeitura. Em inaugurações. Em recepções a autoridades, etc., etc. Diria que - nesse preço - precisariam de umas 200 ou mais apresentações de cachoeirenses, para chegar a quanto custou Michel Telló, para ficar somente nele. Nada contra Telló; tudo para Cachoeiro, que nós amamos e nos mantém vivos.

Agora, vejo nas redes sociais, que vem ai - dia 21, 20 horas, hoje, sábado, Teatro Rubem Braga, o Duo Vieira que, para espanto e alegria meus, tem como participante Rebeca Vieira, bisneta de Alcindo Firmo Vieira, o homem que iniciou as rosquinhas VIP em Cachoeiro e que, 70 anos depois ainda é sucesso em qualidade.

Descubro, ainda, que ela faz parte do vocal ORDINARIUS, conjunto de vozes do Rio de Janeiro, que a cada dia aumenta seu sucesso no Brasil e no mundo. A maioria de nós, além de não saber disso, sequer sabe que está nele a cachoeirense Rebeca.

Tal qual a sugestão que fiz para pagar (mesmo que pouco) a artistas que estão morando, ainda, em Cachoeiro, faço outra: - vamos vasculhar o Brasil a procura de artistas - bons artistas - nascidos aqui, em inicio de carreira e sucesso, e trazê-los para se apresentarem em Cachoeiro.Reclamamos que Roberto Carlos não daria a importância que queremos que ele dê à nossa terra. Mas será que nós demos importância a ele, Roberto Carlos, quando ele era apenas "um quase ninguém" lá fora, no começo de sua carreira?

Fica a reflexão.

 

Sábado, 21 de julho, Teatro Rubem Braga

Um espetáculo que será memorável ocorrerá hoje no palco do Teatro Rubem Braga, aqui de Cachoeiro. Apresentar-se-á o Duo Vieira, composto pelo violonista sete cordas, Ricardo Vieira (Aracaju - SE) e pela cantora Rebeca Vieira, cachoeirense.

A Ricardo, serei apresentado à sua arte, neste sábado, embora já o tenha ouvido em divulgações no facebook, do Duo Vieira. Excelente.

Rebeca, a cachoeirense bisneta de Alcindo Firmo Vieira, já a conheço (embora não a soubesse cachoeirense) do conjunto vocal ORDINARIUS, dos mais extraordinários conjuntos vocais que vi em toda a minha vida.

Fica aqui o convite aos leitores, para presenciarem essa dupla maravilhosa, que orgulha a música brasileira e enche de honra a cultura cachoeirense.

Todos lá no Teatro Rubem Braga, hoje, sábado, 21 de julho de 2018, 20 horas.

 

O GUARDADOR DE IMAGENS

Quando conheci Gil Gonçalves, nos inícios dos anos 70, achei que era apenas mais um colega do Banco do Brasil que, cansado das viagens como Fiscal da CREAI, "descansava", colhendo propostas de crédito agrícola na agência de Cachoeiro.

Bem mais velho que eu, fomos travando, pouco a pouco, uma camaradagem que circulava ao redor das histórias que contava. Até que um dia, certamente julgando que eu já estava preparado, permitiu-me ver as fotos antigas que ajuntara com carinho e sob a maior segurança.Lembro-me do início. Por gestos que me pareciam involuntários e naturais, era proibido a mim e a qualquer outro tocar as fotografias. Pairava no ar um respeito sagrado por aquelas preciosidades. Que eu, e mais quem fosse, as visse nas mãos dele, já trêmulas, embora comandadas por um cérebro de prodigiosa memória que o acompanhou até o fim de seus dias.

Pois bem, foi essa proteção natural e involuntária de não deixar que tocassem as fotos e a sua memória fantástica, aliadas a um grande trabalho de pesquisa que nos permite, agora, ter em mãos essa maravilhosa coleção de fotos. Fotos que os seus herdeiros doam aos estudiosos e aos curiosos.

Gil Gonçalves, se o conheci bem, sempre quis uma coisa em primeiro lugar. Que seu trabalho de monge não se perdesse, que não se perdessem as fotografias que compõem este livro. Perdidas elas, perdida estaria parcela importante da nossa História, da história de Cachoeiro de Itapemirim.

Gil Gonçalves foi homem simples no ser, mas escondia na simplicidade um trabalho insuperável. Existem sim, mas são poucos, raríssimos, os homens capazes de fazer um trabalho de formiguinha, por vezes encarados como sem expressão, para vê-lo transformado, no correr dos anos, em obra monumental. Estas fotos, este livro, são a fotografia em corpo inteiro de Gil Gonçalves.

Queira Deus que sua obra, agora recolhida neste livro de imagens de um tempo que passou, seja farol consistente para tantas outras pessoas - crianças até e principalmente - que colecionam, ainda que por obrigação escolar, notícias, fotos ou qualquer coisa que amanhã se transforme em História.

Gil Gonçalves, posso dizer, já se sente recompensado pela homenagem de seus familiares. De D. Lysette, do Sandoval, da Lúcia, da Hilda e de seus netos. E, por que não dizer, do Sebastião Azeredo, genro e companheiro dos últimos anos.

De mim, digo que é uma das grandes honras de minha vida, senão a maior delas, poder ver publicado este livro e ter merecido a confiança de D. Lysette e dos seus, de prefaciá-lo juntamente com o Dr. Aylton Bermudes.

(Esse texto, meu, foi escrito em 08 de março de 1998. Prefácio do livro de fotografias de Gil Gonçalves, que veio a lume em 1999. Nesta semana, fato relativo a Gil Gonçalves voltou a me emocionar, daí eu recuperar e republicar essa crônica que guardo do lado esquerdo do peito).

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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