Eu me lembro - Jornal Fato
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Eu me lembro


Eu me lembro. Apetece-me a nostalgia, sobretudo doce. Quando era primavera, os jardins cobertos de flores. Um festival de cores e fragrâncias distintas. Um deslumbramento para os olhos. Mais tarde, quando caiam os primeiros anúncios da noite, o crepúsculo apresentava a lua, lua que não existe mais, a esticar seus luminosos tentáculos sobre todos. Minha avó, após uma tarde de prosa em companhia de amigas, todas postadas no passeio público, arrastava as últimas cadeiras para casa. A noite trazia consigo novos fatos. Cada gente do povo, a seu modo, vivia sua cota noturna. Os bares, repletos, ecoavam risadas e tilintar de copos. Moças brejeiras, desfilavam seus tecidos novos, escolhidos a dedo. A luminosidade dos postes era ínfima, mas permitia as cores dos olhos. Quando era primavera, minha aldeia, ia além dos sonhos noctívagos e dos jardins, e o ar, em abundância, enchia os pulmões de ar especial, amalgamado ao cheiro dos assados, exalando das casas. Nessa época, eu não vivi. Existia.

 

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Quando eu crescer, olharei mais a flores.

Menino, ainda, tenho outros sabores, outros instintos.

 

Quando crescer, prometo sentirei o sol!

Mas sou pequeno ainda e, na certeza de minha pequenez, importam-me miudezas, uma de cada vez.

 

Quando crescer, sentirei cada beijo, cada lívido.

detalhe dos lábios.

Mas sou garoto e, nessa condição, vivo de arroubos e murros nos muros onde escrevo: estive aqui

 

Quando eu crescer terei contado os astros nos céus, e cada balaústre antigo de velhos casarões.

Mas infante, vejo largos elefantes e não borboletas. Acho que abelhas não segregam mel. Vivo amargo

 

Quando crescer, definitivamente

Verei gente e os seus olhos. Verei as arvores e suas folhas. Verei o verde.

Na verdade, só mais tarde, conseguirei ver-me!


Giuseppe D'Etorres Advogado

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