Ética seletiva e mentiras absolutas - Jornal Fato
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Ética seletiva e mentiras absolutas

O que mais se ouve é todo mundo falando em honestidade, como se fosse mérito fazer a coisa certa


- Foto Reprodução Web

Mais do que nunca vivemos tempos de ética seletiva, em que muito se critica a corrupção e os políticos, como se ela estivesse restrita aos homens e mulheres que ocupam cargos públicos.

O que mais se ouve é todo mundo falando em honestidade, como se fosse mérito fazer a coisa certa. Honestidade, ética e caráter deveriam ser princípios de vida. E ponto final.

Mas no caminho há as reticências e os que cobram honestidade dos políticos furam fila, burlam a alfândega, sonegam impostos.

Os fiscais da moral e dos bons costumes não devolvem o troco recebido a mais, recebem certificados de conclusão de cursos que nunca fizeram e mentem descaradamente.

A lista é extensa. O que pensar de padres e pastores que condenam a homossexualidade, a pedofilia e o adultério, mas hipocritamente são reincidentes nessas práticas? Então ninguém é honesto simplesmente por não estar na política eleitoral. Tem muito lobo em pele de cordeiro por aí.

Que tal se cada um de nós, na próxima vez que formos apontar o dedo sujo para as imperfeições alheias, nos olhássemos no espelho da vida? Esse ato nos mostraria uma pessoa que tenta subornar o guarda de trânsito para não ser multada, que compra trabalhos prontos da faculdade ou uma que arca com as consequências do que faz, doa a quem doer?

A ética não seletiva nos faz percorrer caminhos mais difíceis porque para trilhá-lo é preciso abrir mão das corrupções nossas de cada dia, pequenas ou grandes. O mundo está cheio de gente que fala de ética sem de fato saber na prática o que ela representa.

É tempo de excluir de vez o termo faça o que eu falo, mas jamais o que eu faço. Quando isso se tornar realidade não mais teremos que ouvir os maiores corruptos do mundo empresarial e político falando contra a sonegação de impostos e mau uso do dinheiro público ao mesmo tempo em que têm bilhões guardados em paraísos fiscais e colocam gastos do cartão corporativo sob sigilo.

Ética não pode ser apenas uma palavra bonita. É preciso que reflita no cotidiano. Que faça diferença. Que promova mudanças. Que contribua para uma sociedade melhor.

Mas a sociedade só muda quando nós mudarmos. Esta é uma decisão difícil, necessária e pessoal e intransferível. Que a ética seletiva não faça parte de nossas vidas. Que sejamos movidos pela ousadia e pela coragem. E acima de tudo pela paz que excede a todo o entendimento.


Anete Lacerda Jornalista

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