É a vida, é bonita e é bonita - Jornal Fato
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É a vida, é bonita e é bonita

O ser humano está sempre a projetar algo, a criar metas, a sonhar, o que é necessário


A vida é cheia de contradições. O ser humano está sempre a projetar algo, a criar metas, a sonhar, o que é necessário. Contudo, nem sempre os sonhos buscados se realizam, mas isso não é o fim. Ao contrário, uma porta fechada pode ser encarada como incontáveis outras oportunidades à frente. Às vezes ser sábio está em tentar retirar os obstáculos para a realização dos projetos, mas, vez e outra, a sabedoria está em desviar o caminho e recriar os objetivos antes traçados.

Mudanças de rumo acontecem em todas idades e classes sociais. Estas podem decorrer de uma nova oportunidade, de uma doença repentina, de um fato inesperado que altera a realidade até então conhecida. Seja positivo ou negativo o fator que impõe o desvio ou o enfretamento do que dificulta a realização de um projeto, ser feliz ou não dependerá do modo de encarar a situação.

Com o tempo, enxergamos um punhado de coisas, aprendemos um pouco sobre a vida e já temos alguma condição de identificar mudanças comportamentais ao longo das décadas.

Apesar disso, algo que nunca mudou foi a coexistência, junto à vida, do sofrimento, dos amores perdidos, das decepções, dos arrependimentos, das alegrias, das vitórias, das superações, ... Contudo, percebo que, quando jovem, ao menos parece-me, que as decepções eram mais bem enfrentadas.

Quando, por algum motivo, o coração se partia, os adolescentes e jovens de outrora sabiam que tinham que levantar a cabeça e seguir em frente. Com essa decisão, pouco a pouco, as razões da dor eram superadas.

Hoje, vejo jovens (de todas as idades) que, por qualquer decepção, deixam-se afundar, automutilam-se, vitimizam-se, desejam morrer ou matar. Assim, a dor se eleva e a vida perde sua cor, seu brilho. Sem forças, muitos se equivocam e veem no suicídio a solução.

Se não bastasse, além da dor que aflora dentro da própria pessoa, seja por algum fator externo desencadeante ou seja por distúrbios químicos orgânicos, existem fatores de fora, mas agravantes. Estes trazidos por pessoas alheias ao sofrimento que, sem a humanidade de ajudar, praticam atos de violência física e/ou psicológica (bullying), o que reforça o pensamento de morte.

Com a visão ofuscada pela tristeza, algumas pessoas não percebem que todos os problemas são passíveis de superação. Esta pode decorrer do tratamento medicamentoso e/ou psicológico, da decisão firme de não se sentir vítima, do apoio dos que lhes são próximos, da oração e/ou de todos os recursos curativos somatizados. Apesar disso, tem-se ampliado, de modo inaceitável, os índices de suicídios.

De tão alarmante essa situação que, desde 2014, foi criada uma campanha que visa a conscientização sobre a importância da prevenção do suicídio, chamada SETEMBRO AMARELO.

Assim, tendo em vista que esse drama tornou-se mais um mal dessa geração, necessário que todos caminhemos de mãos dadas, que todos sejamos sensíveis às diferenças e às dores do Outro e, como seres humanos socializados, que tentemos, com generosidade, dar cor a vida de quem a enxerga acinzentada. Que não sejamos trevas a piorar a dor dos que já têm a vida sombreada. Que sejamos luz a mostrar que viver, apesar de seus pesares, é esplendoroso.

E, nesse sentido, que em setembro e nos demais meses, façamos de nossa melodia pessoal e comunitária a música que nos deixou Gonzaguinha: "Eu fico com a pureza das respostas das crianças: É a vida, é bonita e é bonita."

 

Katiuscia Oliveira de Souza Marins

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Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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