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Criança é Gente

Aquela ideia retrógada de que criança é forte, de que não se cansa, de que aguenta apanhar, de que... já não cabe mais nessa geração.


- Foto Reprodução Web

Nos últimos tempos tenho tido a oportunidade de conviver, um pouco mais, com crianças e adolescentes em razão do ministério que atuo na Igreja na qual congrego.

Em razão disso, tive o prazer de trabalhar em um retiro e na organização de um culto voltado exclusivamente para crianças e adolescentes a partir dos 09 anos de idade.

Nesse trabalho meus olhos tem se aberto para entender que as nossas crianças têm carregado muitas dores. Aquela ideia retrógada de que criança é forte, de que não se cansa, de que aguenta apanhar, de que... já não cabe mais nessa geração em que a precocidade, em todas as suas vertentes, tem forçado que, ainda muito novinhos, nossos meninos e meninas deem conta de lidar com medos, frustações e abandonos que, por vezes, nem nós adultos somos capazes.

Um dos desafios enfrentados por essas pequenas grandes pessoas começa dentro de casa, especialmente, quando são obrigadas a conviver num ambiente nocivo de ofensas e de desrespeitos; quando desejam um olhar, mas ganham um celular, às vezes, nem isso.

Sem dúvida alguma, a falta de harmonia, havida em muitos lares, tem construído, nos futuros líderes de nossa nação, um sentimento de não pertencimento à família e, com isso, nasce uma baixa estima que deixa a criança vulnerável diante de uma sociedade cheia de contradições, de liberdades e de vícios que tendem a causar danos diversos à pessoa em sua plenitude, ou seja, que maculam o ser humano, desde a infância, em sua essência material, psíquica e espiritual.

Em meio a esse quadro, real e visível, há poucos dias, ouvi a mensagem de uma pastora, cujo ministério é voltado para crianças. Nesta ela dizia que a criança não pode ser tratada como se a vida fosse uma brincadeira constante.

Na oportunidade, explicou que a criança, como o adulto, tem ansiedades, tem medos, tem traumas e tem sede de Deus, Deus este que sempre amou - e ama -, com afeição especial, os pequeninos.

Apesar do que salta aos nossos olhos, em geral, vivemos uma geração que, inconscientemente, trata as crianças como um peso, que lhe entrega o celular para compensar todas as outras carências e ausências, mas que, contraditoriamente, apesar de abandoná-la emocionalmente, não permite que ela se frustre. Isso, sem falar nas que são vítimas, de modo tão escancarado, do abandono que são retiradas de seus lares e perdem, totalmente, a referência familiar.

Assim, as crianças, embora feridas na alma, não aprendem a aceitar nãos, entregam-se a rebeldia, buscam apoio nos vícios, desprezam seu corpo, templo de Deus, defendem a liberdade, mas não sabem lidar com as próprias escolhas. Tantas contradições têm despertado, em muitos pequenos, automutilações e o desejo suicídio, dramas, infelizmente, corriqueiro nos consultórios terapêuticos da atualidade.

Diante disso, tenho, a cada dia, percebido que criança, em sua essência, é gente. Gente que sente, que chora, que carrega traumas, que tem um coração que bate e que grita por um olhar, por um amor, por um abraço, por uma atenção, não raro, negligenciada.

Criança é gente, que sente, que tem sede de Deus, pois, além do corpo, que gosta de brincar, criança também tem alma, que protesta por atenção, e espírito que clama por Deus.

Criança é gente que agrada o coração de Deus por sua essência pura, mas que, por nosso inconsciente descaso, tem, muito cedo, perdido a inocência que é corrompida por dores que nossos olhos não vêm porque estamos muito, o tempo todo, ocupados.

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