Conexão Mansur: Somos sim, a Capital Secreta do Mundo - Jornal Fato
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Conexão Mansur: Somos sim, a Capital Secreta do Mundo

A origem da expressão "Capital Secreta do Mundo"


- Ilustração: Zé Ricardo

Dia desses alguém me fez uma pergunta da qual eu achei seria de fácil resposta, desde que eu fizesse algumas pesquisas em meus livros, revistas e papeladas. Para surpresa minha verifiquei que a resposta que eu tinha era bem curta, não tão resolutiva. A pergunta do amigo foi essa: - "Mansur, como é a história da expressão referente a Cachoeiro, como CAPITAL SECRETA DO MUNDO". Respondi logo: - "Isso é coisa do Rubem Braga, o maior cronista brasileiro e do mundo também, ora bolas".

Só que me deu uma luz, e me lembrei que a única referência que eu sabia, é que tinha nascido a partir de uma "discussão" entre Rubem e o poeta Vinicius de Moraes, provavelmente no apartamento de Rubem, no Rio de Janeiro. Mas, para surpresa minha, também em meus livros, revistas e papeladas, não tinha referências explícitas ao poeta. E aí veio a luz geral e definitiva. Eu nunca ouvira dizer com certeza absoluta que essa frase tão imponente e comentada - "CAPITAL SECRETA DO MUNDO" - tivesse sua origem devidamente escrita, a ponto de resolver o "problema" levantado.

A partir daí, entrei no site da "Fundação Casa de Rui Barbosa", em cujos arquivos físicos está todo o material escrito deixado por Rubem Braga. Mas para meu estranhamento que vinha se sucedendo, só achei, nos textos de Rubem, em jornais e revistas lá arquivados, duas referências dele à "Capital Secreta do Mundo".

Uma de uma revista ou jornal não identificado de 22/04/1949, onde Rubem diz, sem maiores consequências, num escrito denominado "Madrugadas" que "Burle Marx vai de caminhão até a Capital Secreta do país, que, como todos sabem, é Cachoeiro de Itapemirim".

A outra referência em crônica de Rubem, é a crônica na coluna "Trivial Variado", de 12/01/1965 (também sem informação de qual a revista ou jornal que a publicou), denominada "Capital Cultural?", cuja frase é a seguinte: - "O Governador Lacerda, se quiser, que apresente suas provas; este cronista, visivelmente cachoeirense (de Cachoeiro de Itapemirim, capital secreta do Brasil) não entra nessa briga".

E na revista QUATRO RODAS, de junho de 1967, centenário de Cachoeiro, Rubem Braga escreveu: - "Há quem diga que se trata (Cachoeiro) da capital secreta do Espirito Santo, do Brasil e do Mundo. Nós cachoeirenses somos um pouquinho bairristas, mas eu não chego a dizer tal coisa. Não, não digo; apenas sinto. É uma questão sentimental, irremovível como a infância de cada um".

Continuando minhas pesquisas, achei o texto "Cachoeiro de Itapemirim - revelamos a capital secreta do mundo", publicado no já distante abril de 2009, em "A Gazeta", texto de Fábio Botacin.

O texto de Botacin é este: - "Acaba por trazer à tona os folclores que cercam a cidade do Sul do Estado, conhecida por um título que deixa claro a mania de grandeza do cidadão de Cachoeiro: - Capital Secreta do Mundo". A história mais coerente sobre a origem dessa expressão remete a Vinicius de Moraes. O poeta teria ironizado a cidade do amigo Rubem Braga, durante um encontro no Rio. Resultado, o apelido virou troféu e foi espalhado aos quatro cantos pelo escritor em suas crônicas. Outra versão, muito conhecida na cidade, atribui o batismo ao próprio Rubem... e hoje há um mito cultural, que é tão importante quanto a cidades que o inspirou.

Nada mais achando de Rubem e sobre a Capital Secreta, caiu-me às mãos o livro biográfico de Rubem, publicado já em 2005, por seu sobrinho Afonso Abreu, título ... "Rubem Braga", o qual, para mim, começou a elucidar-se a origem do termo "Capital Secreta".

Diz Afonso Abreu: - "Essa brincadeira dos Braga, de dar o título de "Capital Secreta do Mundo" a Cachoeiro, é um exemplo do cenário da nossa infância, da nossa criação. E que se perpetua. Esse pessoal, quando fala, recita, escreve, pinta ou canta sua terra, levanta e descortina um véu colorido e rico de passagens que não voltam mais, mas que ficam para sempre em nossa mente".

Juntando tudo, não há como não reconhecer: - A "Capital Secreta" foi gestada na criancice de Rubem Braga, e o respeito que se tinha por ele, e o respeito que se tem por ele, consolidou o nome.

E, afinal, "aquilo que é bem inventado é uma história, não uma mentira", como disse Elias Canetti.

 

Livros da História de Cachoeiro

 

 

Fui "convocado" pela direção e funcionários da Biblioteca Pública Municipal de Cachoeiro, para autorizar a digitalização do livro "Minha Terra e Meu Município", de Antonio Marins, edição de 2020, que eu publicara com patrocínio da SICOOB, ELETROMAX e ACQUAREALE. Autorizei de imediato.

Depois, eu mesmo ofereci à Biblioteca Municipal, para digitalização, a obra do Professor Domingos Ubaldo Lopes Ribeiro, o "Município de Cachoeiro de Itapemirim (Suas terras, suas leis, seu progresso, sua gente)". São quase 600 páginas, livro o qual eu recebera a edição original - de 1928 - do Grande GIL GONÇALVES e a conservo com o maior respeito.

Isso que estou dizendo aqui, não poderia dizer antes da liberação das digitalizações pelo órgão municipal competente, mas o faço, com muito prazer, para agradecer e homenagear o trabalho dos servidores municipais, melhor dizendo, O BRILHANTE TRABALHO DOS FUNCIONÁRIOS E FUNCIONÁRIAS DA BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL MAJOR WALTER DOS SANTOS PAIVA. São eles: - Marcela, Augusto, Bárbara, Regina, Alexandre e, claro, Fernanda Merchid, Secretária de Cultura.

Tenho dito, muito agradecido.

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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