Conexão Mansur: O Dia de Cachoeiro - Pioneirismo - Jornal Fato
Artigos

Conexão Mansur: O Dia de Cachoeiro - Pioneirismo

Cachoeiro foi o Município brasileiro em que se iniciaram as primeiras festas municipais em um dia qualquer do ano.


- Ilustração: Zé Ricardo

Contam os cachoeirenses antigos - e sempre repetimos nos dias atuais - que foi nossa Cachoeiro o Município brasileiro em que se iniciaram as primeiras festas municipais em um dia qualquer do ano - festas em que se reuniam os cachoeirenses que continuam morando na cidade e aqueles que, por motivos diversos, tiveram que se mudar da cidade.

Seria uma forma de dar importância à cidade e, mais que isso, fazerem os cachoeirenses presentes e ausentes se reunirem anualmente, para relembrarem o passado e se confraternizarem para o presente e para o futuro.

Diz-se, com certeza, que foi Newton Braga quem teve a ideia brilhante, em publicação no jornal cachoeirense, "O Livro", de 11 de março de 1939.

É esse o texto de Newton, naquele jornal:

- "Volta-me a lembrança uma velha ideia que hei de ver coisa feita, um dia. É juntar aqui todos os cachoeirenses ausentes... Tem poucas cidades no Brasil de um cabotinismo tão bom como o de Cachoeiro. Você esbarra com um cachoeirense fora daqui, o bicho é todo saudade, é todo exaltação à cidadezinha distante: "Não há, meu caro. Tou doido para voltar pra lá!""

- "Minha vontade", continua Newton, "é juntar esse povo todo aqui. Faríamos, todos os anos, o Dia de Cachoeiro... A cidade toda recebendo, festivamente, os filhos distantes; a grande família reunida. Vamos realizá-lo em 1939?"

Já em 1942 a ideia genial de Newton Braga se juntou a outra ideia também genial (dele?) como aquela. Porque na festa de Cachoeiro não homenagearmos o Cachoeirense Ausente n. 1º?

E foi a partir daí - até os dias de hoje - que no fim de junho de cada ano, temos a Festa de Cachoeiro e a entrega do Título de "CACHOEIRENSE AUSENTE Nº 1", duas festas numa só.

Como se vê ai em cima, tudo o que está escrito, está escrito na imprensa local, de forma que a genialidade da Festa anual da cidade de Cachoeiro poderia ser apenas uma "contação de vantagem", que toda a cidade pode ter.

Mas não é isso não. O pioneirismo de Cachoeiro, na sua Festa Anual e na entrega do Título de Cachoeirense Ausente nº 1, além do bairrismo característico nosso, foram reconhecidos pela mais que importante revista carioca, de circulação nacional, O MALHO, de 1946, que assim se expressou:

- "UMA CIDADE EM FESTA - Para receber seus filhos e amigos ausentes, ultimam-se os preparativos para as comemorações do "Dia de Cachoeiro". Não sabemos de iniciativa, no Brasil, com as características do "Dia de Cachoeiro". Trata-se de uma cidade, a bela e progressista Cachoeiro de Itapemirim, no Estado do Espírito Santo, que, todos os anos, dedica o dia 29 de junho aos seus filhos e amigos ausentes, recebendo-os com um interessantíssimo programa de festas de caráter absolutamente popular. Realizadas pela primeira vez em 1939, as comemorações do "Dia de Cachoeiro" vem se repetindo todos os anos, com um êxito sempre crescente, constituindo, sem favor, a festa de maior repercussão, brilho e concorrência do pequeno e próspero Estado".

No trabalho de pesquisa que fiz para chegar ao texto da crônica acima, verifiquei um "erro" grave, que pode ser consertado para o futuro (e para o passado também).

Existem duas edições de livretos editados oficialmente pela Prefeitura de Cachoeiro, com pequenas biografias dos Cachoeirenses Ausentes, desde 1942. De um deles, Cachoeirense Ausente nº 1, sequer fotografia ou informações simples existem.

 

 

Mas quanto ao Cachoeirense Ausente de 2009, MICHEL MISSE, existe um volume com 40 páginas, que conta sua história em Cachoeiro e fora dele, volume privado editado pela Booklink Publicações, e pelos cachoeirenses Glauco de Oliveira e Bruno Torres Paraíso.

Volume semelhante a esse, de 2009, deveria ser aplicado a todos os futuros Cachoeirenses Ausentes nº 1, patrocinado pela Prefeitura.

 

Eu não falei nada...

A poesia transcrita abaixo foi retirada de cartão postal adquirido no Museu do Holocausto (Washington DC - EUA), referente ao nazismo na Alemanha e no silêncio do povo durante aquele regime. Foi presente da amiga de Maria Elvira, a Tatiana Dutra Mello, brasileira, que vive na Califórnia, professora de Língua Portuguesa na Universidade de Berkeley. Tatiana desenvolve belos e importantes projetos na Baía de São Francisco, visando preservar nossa Língua e Cultura, entre os brasileiros e brasileirinhos que vivem na região. Língua é identidade! A ela e à sua parceira, Valéria Sasser, nossa gratidão e admiração.

O texto do cartão é do alemão Martin Neimöller (1892 - 1984), que apoiou os nazistas em sua origem. Posteriormente ele liderou sua igreja na oposição contra Hitler. Esteve preso de 1937 a 1945. Nos anos de 1950 e 1960, ele foi, na Alemanha Ocidental, um grande pacifista e lutou contra os armamentos nucleares.

Eis o texto do Pastor Martin Niemöller, para nossa reflexão em todas as vezes que ousarmos calar nossa voz, quando deveríamos elevá-la:

 

         Na Alemanha, eu não falei nada

         Martin Niemöller

 




         Primeiro, eles vieram

         atrás dos comunistas....

         E eu não falei nada

         porque eu não era um comunista.

 

         Então, eles vieram

         atrás dos sindicalistas...

         E eu não falei nada

         porque eu não era um sindicalista.

 

         Depois, eles vieram

         atrás dos judeus...

         E eu também não falei nada

         porque eu não era um judeu.

 

         Por fim, vieram atrás de mim...

         e não havia sobrado ninguém

         para falar por mim."

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

Comentários