Cavalo de Tróia - Jornal Fato
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Cavalo de Tróia

Escrever tem sido cada dia mais difícil para mim. Tenho me repetido.


- Foto Reprodução Web

Parte por falta de talento, mas também porque o enredo se repete. Mundinho sem imaginação esse. Conversando com meus botões, tento me convencer de que não quero saber de orçamento secreto, tornozeleira eletrônica, desobediência civil e do caos político que se instalou no Brasil.

Mas a alienação nunca foi a minha opção. Fechar os olhos e fazer de conta que nada está acontecendo não vai rolar, embora me dê ao direito da abstração vez por outra. Por uma questão de sanidade.

Vivemos tempos em todo cuidado é pouco. Precisamos nos vigiar para não vivermos sob as expectativas dos outros. As nossas às vezes já são suficientemente cruéis. Não podemos, em nenhuma hipótese, admitir que o nosso valor seja medido por olhares, direções e sonhos que não sejam os nossos. 

Enquanto permitirmos sermos vistos sob a ótica de terceiros, perdemos a capacidade do olhar interior. Preciosíssimo. Às vezes o olhar alheio, como diria o meu pai, nos envolve a tal ponto que no meio do caminho nos perdemos e não sabemos mais quem realmente somos e onde queremos chegar.

Questionamos o direito que temos de falar ou calar, de parar ou prosseguir, de rir ou chorar, de seguir em frente fazendo as nossas próprias escolhas, sem um roteiro escrito por outras pessoas. Nós devemos ser os protagonistas de nossa própria história. Simples assim, embora às vezes a gente complique essa equação viver e deixar viver.

Nossa vida pessoal e nossos sonhos são solo sagrado. E não podemos abrir mão disso. Mas é preciso a decisão de seguir em frente. Sem máscaras. Sem meias palavras. Mas com a delicadeza suficiente para não tornar esse mundo ainda pior.

Firmeza não é sinônimo de brutalidade. É simplesmente fazer com que percebam que temos o direito de seguir em frente sem a necessidade de agradar a gregos e troianos.

Em tempos de vidas perfeitas exibidas pelas redes sociais, não ter como prioridade agradar todo mundo realmente é um passo gigantesco.

Podemos decidir o que vamos absorver, engolir, deixar entrar em nossas vidas. Ou tomamos essa decisão, à revelia da vontade de pessoas que desconhecem o caminho que percorremos até aqui, ou corremos o risco de aceitar cavalos de Tróia de presente.

Não permita que ninguém tire seu direito de ser livre, leve, solto e feliz. Viva a liberdade. Viva a vida. Intensamente, porque é só assim que ela vale a pena. Não olhe para os problemas. Mas para as possibilidades. Elas são infinitas. Mas às vezes estamos tão ocupados lambendo as feridas que elas passam. O tempo é agora.


Anete Lacerda Jornalista

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