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Nos dias de hoje verifica-se uma contradição entre a aparência e os sentimentos; entre a ilusão e a realidade, pois é comum que pessoas expressem alegria nas redes sociais quando o coração não vai bem.

Não que há pecado em vestir-se com a melhor roupa, em iluminar a face com maquiagens e em camuflar a dor com belos sorrisos. Tampouco há algo de mal em mostrar o que há de bom em nossas vidas.

O problema surge quando o superficial e o aparente ofuscam as razões dos sofrimentos e inibem a busca da superação.

Uma dor que não é tratada, que não se tenta superar, pode-se agravar e se tornar uma doença da alma e do corpo. Atualmente, quando belas imagens junto a amigos, família, cheias de alegria e de sorrisos, transbordam no WhatsApp, instagram, facebook, etc., contraditoriamente, cresce o índice de deprimidos, de acometidos por síndromes do pânico, ..., ampliam-se os diagnósticos que revelam que muitos corações estão surrados, apesar do disfarce.

Contudo, diferente das doenças físicas, cujo diagnóstico é visível em exames, ainda prevalece na sociedade o medo de tratar as doenças invisíveis. Ainda há quem pense que apenas "doido" busca terapia, mas estes ignoram que, em algum momento da vida, todos sentimos a alegria e experimentamos a superação. Contudo, vez e outra, todos também nos deparamos com a tristeza, com o medo e com a limitação. Em geral, estamos orgânica e mentalmente preparados para esses baixos da vida, mas, quando a tristeza não quer passar e quando já não mais conseguimos sair de nossas casas, algo de incomum está acontecendo, portanto, precisa ser observado.

Já diz o salmo 30: o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã. As ciências humanas também nos ensinam que tudo passa, ou deve passar, em algum momento. Assim, se a tristeza fica em nosso peito dia após dia, não somos loucos, mas, como pessoas humanas, sensíveis e formadas por corpo e por alma, precisamos buscar ajuda de um profissional.

Nesse sentido, é importante o entendimento de que a ansiedade é positiva. Afinal, fica-se ansioso antes da entrevista de um novo emprego, de uma prova, de um exame médico suspeito ou de uma viagem esperada. A ansiedade funciona como uma defesa do corpo para o desconhecido que há por vir. Contudo, quando se permanece ansioso o dia inteiro e o tempo todo, pode ser que se esteja diante de distúrbios químicos orgânicos que, se não equilibrados com acompanhamento de um profissional, tendem a se transformar em doenças físicas.

Assim, sentir tristeza e precisar de ajuda profissional não é sinônimo de loucura, tampouco revela fraqueza. Ao contrário, demonstra a existência da consciência de si mesmo, revela a vivência do amor próprio e a coragem de mudar o quadro que corrói a vida às escondidas.

De toda sorte, quem nos poderá condenar se, um dia na vida, a terapia nos for necessária para o reequilíbrio emocional? Quem nos julgará se o lexotan nos for indispensável por um tempo? Augusto Cury, psiquiatra e escritor, traz, em uma de suas obras, uma revelação que não é de toda equivocada, qual seja: de gênio e louco todo mundo tem um pouco


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

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