Saudável indiferença - Jornal Fato
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Saudável indiferença

Que o papa é pop todo mundo já percebeu...


Que o papa é pop todo mundo já percebeu. Que ele põe o dedo na ferida e tira o lizo debaixo do tapete, também. Que ele não busca, como é comum entre os líderes religiosos, "tapar o sol com a peneira", idem.

Então é um papa com diferencial, acessível, que abriu mão de todas as mordomias, luxos e benesses do Palácio Apostólico, residência oficial de todos os papas, para viver num lugar confortável, mas comum e simples. Uma casa em que vivem padres do "baixo clero", a Casa Santa Marta.

Ele mora lá desde quando foi eleito Pontífice e conheceu o local após hospedar-se durante sua eleição, em março de 2013. Em resposta a um padre argentino amigo, escreveu: "Procuro manter o mesmo jeito de ser e de agir que tinha em Buenos Aires, porque se eu mudar na minha idade, com certeza vou fazer um papel ridículo".

A carta foi necessária porque ninguém entendia como o provável maior líder religioso do mundo na atualidade foi capaz de abrir mão de morar no Palácio Apostólico, com todas as suas regalias.  "Não quis ir morar no Palácio Apostólico, vou lá só para trabalhar e para as audiências".

E vai além. "Fiquei morando na Casa Santa Marta, que é uma casa de hóspedes para bispos, padres e leigos. Estou perto das pessoas e levo uma vida normal: missa pública de manhã, como no refeitório com todos. Isto me faz bem e evita que fique isolado".

A introdução é para abordar a parte que talvez tenha sido a menos relevante, mas de grande repercussão, de uma entrevista que o Papa Francisco deu no ano passado ao jornal italiano Corriere dela Sera.

Ele abordou fé, abuso infantil e corrupção na igreja, temas polêmicos, mas o que teve viralizou foi o fato de dizer que não toma tranquilizantes. "Não, eu não tomo comprimidos tranquilizantes! Os italianos dão um bom conselho: para viver em paz é necessária uma saudável indiferença".

Como assim, gente, uma saudável indiferença? Quem esse papa pensa que é, para esfregar na cara de tanta gente que é possível ser extraordinário e conseguir abstrair-se, sem que isso tire sua humanidade, a paz e amor pelo próximo?

Pois é. É exatamente isso que o Papa Pop faz. Recusou-se a mudar diante de um cargo inesperado, mas que concedeu um poder não apenas religioso, mas político, no mundo todo. "Se eu mudar na minha idade, com certeza vou fazer papel ridículo". Se recusou a ser engessado pelas normas religiosas que enterram a fé e a esperança. Vive e ensina a viver. Não é desses contaminados pela maldita indiferença que mata. O papa é pop. Saudável indiferença para você também.


Anete Lacerda Jornalista

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