Indiferença que mata - Jornal Fato
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Indiferença que mata


Essa semana soube de dois suicídios, um deles de um jovem de 22 anos. E exatamente enquanto escrevo esse artigo, recebo num grupo de WhatsApp a notícia de que um amigo encontrou o primo morto pela mesma causa. 

Abordo esse tema triste e recorrente para falar de generosidade e empatia. Hoje recebi uma visita que me fez pensar muito no quanto a indiferença mata e o amor resgata e salva sonhos e vidas. 

Minha amiga contava que alguém da família passou por momentos difíceis, após uma separação com filhos ainda bem pequenos. Desempregada e sem pensão, a mulher passava sérios apertos, inclusive em relação à alimentação.

Quando arrumou um emprego, a mãe usava o dinheiro da passagem para comprar as poucas coisas possíveis para os filhos comerem e ia e voltava a pé. E, trabalhando numa padaria, recebia pão e leite para os filhos, o que era um grande alívio.

Mas na hora do almoço, sempre subia em direção ao banheiro e se trancava, porque tinha feito a escolha muito fácil para uma boa mãe. Se comesse, faltaria para os filhos. Como tinha lanche às 9h e às 15h, conseguia passar o dia relativamente bem.

Só que uma amiga percebia que ela nunca esquentava a comida. Não usava o refeitório e dava a desculpa que preferia fria. Num dia quando subiu para o banheiro, a amiga a flagrou chorando. Ela desconversou, disse que já tinha almoçado e desceu para o trabalho.

A amiga percebeu que ela não almoçava e o patrão tomou conhecimento do fato. A partir daquele dia ela e os filhos nunca mais passaram necessidade e ela passou a almoçar no refeitório com as amigas.

Essa é uma história real não autorizada. Por isso não posso citar o nome desse empresário do setor de panificação que sempre quis saber sobre as dificuldades dos seus colaboradores para ajudá-los.

O capital que ele valoriza, por tudo que ouvi, é também o humano e não apenas o financeiro. Ele continua em atividade, tem uma mulher, que é médica, igualmente generosa, e deve ter abençoado a vida de muitas famílias, de forma anônima, como a Bíblia ensina. 

E desejo, do fundo do meu coração, que muitos outros tenham a mesma empatia e preocupação com o outro. Hoje a indiferença mata, mas sonho com novos tempos em que a dor de um seja a dor de todos.

Que não nos mobilizemos apenas pelas hashtags da moda, por causas que deem projeção, visibilidade e espaço na mídia. Que nos importemos de verdade com aqueles com dor tamanha que o caminho mais plausível é tirar a própria vida.

Que o amor nos mova. E que com ele mudemos o mundo e façamos diferença nesse mundo cão e hipócrita. Que Deus nos ajude.

 


Anete Lacerda Jornalista

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